(1944-1992) |
Ele ia de Santarém
a caminho de Lisboa
não sabia se ganhava
não sabia se perdia.
Ele ia de Santarém
para jogar a sua sorte
a caminho de Lisboa
em marcha de vida ou morte.
E dentro dele uma voz
todo o tempo lhe dizia:
Levar a carta a Garcia.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido
como um cavaleiro antigo
em cima do tanque verde
com o seu elmo e sua lança
ei-lo que avança e avança
ninguém o pode deter.
Ele ia de Santarém
para vencer ou morrer.
E em toda a estrada o ruído
da marcha do Capitão.
Eram lagartas rangendo
e mil cavalos correndo
contra o tempo sem sentido.
E aquela voz que dizia:
Levar a carta a Garcia.
Era um cavaleiro andante
no peito do Capitão.
E o pulsar do coração
de quem já tomou partido.
Ele ia de Santarém
todo de negro vestido.
Manuel Alegre
Um homem da Liberdade
A data de
hoje justifica que se recorde o encontro de dois homens de carácter que se
admiravam mutuamente: Francisco Sousa Tavares e Salgueiro Maia. Encontro que é
contado pelo jornalista António de Sousa Duarte, num livro que vale a pena
ler: Salgueiro Maia, um
homem da Liberdade.
"É
neste momento que o advogado Francisco Sousa Tavares, a pedido de Salgueiro
Maia, dirigindo-se à população, pedindo respeito pelos vencidos e anunciando a
«libertação do jugo fascista». O ex-candidato no acto eleitoral de 1969 nas
listas da depois extinta Comissão Eleitoral da Unidade Democrática trava aí uma
amizade com o capitão Maia. Mais tarde, o velho democrata recordará:
«Era um
militar de bravura inigualável, mas também extremamente sensato e um homem de
coração. Maia era um chefe nato e dele emanava a força serena dos homens
habituados a dominarem-se e, sendo preciso, a dominar os outros. Foi assim que
Salgueiro Maia, com os seus homens, dos quais a maioria sem qualquer
experiência e praticamente sem instrução de tiro, venceu na Revolução e virou a
página da História de Portugal.
Dominou
calmamente o terreiro do Paço, o tenente-coronel Ferrand de Almeida, dominou o
brigadeiro (!!!) que se lhe quis opor e, pela calma fixa do seu olhar, dominou
um a um os homens que receberam ordem para disparar sobre ele. No Carmo dominou
tudo e todos: dominou a guarda, dominou o Governo, dominou os ministros que
choravam, dominou a multidão, dominou o ódio colectivo dos que gritavam
vingança. E dominou o tempo e a vitória que veio ter com ele, obediente e
fascinada»" (página 115).
(retirado
de Rerum
Natura, Abril de 2008)
Belíssimo.
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