Entre 1809 e 1811, Lord Byron viajou pelo sul da Europa daí resultando o longo poema Peregrinação de Childe Harold. Num tom autobiográfico, Byron, ou melhor, Childe Harold, que, cansado da vida que tem levado, lamenta o tempo perdido na juventude, reavalia a sua vida, iniciando uma peregrinação para reflectir.
Portugal faz parte do seu itinerário, tendo Sintra impressionado muitíssimo Byron, como romântico que era.
Dessa estadia, de 7 a 17 de julho de 1809, durante a ocupação francesa, visitou Lisboa, Sintra e Mafra. Tinha 21 anos. Viaja com o amigo John Hobhouse e três criados. A opinião sobre os portugueses não era a melhor, como se pode ler neste excerto que escreveu ao amigo Francis Hodgson, na véspera da sua partida:
Lisboa, 16 de Julho de 1809
Até ao momento temos seguido a nossa rota, e visto todo o tipo de panorâmicas maravilhosas, palácios, conventos &c., - o que, estando para ser contado na próxima obra, Book of Travels, do meu amigo Hobhouse eu não anteciparei transmitindo-lhe qualquer relato de uma maneira privada e clandestina. Devo apenas observar que a vila de Cintra, na Estremadura, é talvez a mais bela do mundo.
Sinto-me muito feliz aqui, porque adoro laranjas, e falo um latim macarrónico com os monges, que o compreendem, uma vez que é como o deles, - e frequento a sociedade (com as minhas pistolas de bolso), e nado ao longo do Tejo, e monto em burros ou mulas, e digo palavrões em Português, e sou mordido pelos mosquitos. Mas quê? Aqueles que efectuam digressões não devem esperar conforto.
Sinto-me muito feliz aqui, porque adoro laranjas, e falo um latim macarrónico com os monges, que o compreendem, uma vez que é como o deles, - e frequento a sociedade (com as minhas pistolas de bolso), e nado ao longo do Tejo, e monto em burros ou mulas, e digo palavrões em Português, e sou mordido pelos mosquitos. Mas quê? Aqueles que efectuam digressões não devem esperar conforto.
Quando os portugueses são pertinazes, eu digo 'Carracho!' - a grande praga dos fidalgos, que muito bem ocupa o lugar de 'Damme!' - e quando fico aborrecido com o meu vizinho declaro-o 'Ambra di merdo' [por 'Homem de merda' ?]. Com estas duas frases, e uma terceira, 'Avra bouro'
[por 'Arre burro' ?], que significa 'Get an ass' ['Arranja um burro'
...!?!, obviamente uma tradução incorrecta.], sou universalmente
reconhecido como pessoa de categoria e mestre em línguas. Quão
alegremente vivemos sendo viajantes! - se tivermos comida e vestuário.
Mas, em sóbria tristeza, qualquer coisa é melhor do que Inglaterra e eu
estou infinitamente divertido com a minha peregrinação, até ao momento.
(...)
Hodgson! Envia-me as novidades, e as mortes e as derrotas e crimes capitais e as desgraças dos amigos; e dá-nos conta das questões literárias, e das controvérsias e das críticas. Tudo isto será agradável - 'Suave mari magno, &c.'. A propósito, tenho andado enjoado e farto do mar. Adieu.
Hodgson! Envia-me as novidades, e as mortes e as derrotas e crimes capitais e as desgraças dos amigos; e dá-nos conta das questões literárias, e das controvérsias e das críticas. Tudo isto será agradável - 'Suave mari magno, &c.'. A propósito, tenho andado enjoado e farto do mar. Adieu.
Lord Byron nasceu no dia 22 de janeiro de 1788.
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