De entre os inúmeros artigos escritos estes dias sobre Vergílio Ferreira, este, de José Navarro de Andrade, publicado no blogue Delito de opinião, intitulado O profe de Português do 1º CC, turma G, impressionou-me.
Como se sentiria o escritor, nem sempre de trato fácil, naquele papel de professor, numa época conturbada, perante uma turma, perante uma tarefa que o martirizava? Que desespero sentiria?
Vergílio Ferreira tinha, então, quase a idade que tenho hoje. Também estou à beira da reforma e não imagino, ou não quero imaginar, o que seria "arrastar-me" desta forma até ao dia em que poderei ir fazer outras coisas. Gosto muitíssimo do que faço, não é esforço, ainda, excepto se começar a pensar em certas ... reuniões...
Incomodou-me.
À
beira da reforma, o professor de português passava as aulas a olhar pela janela
com supino enfado, enquanto tentávamos desbravar o texto que nos dera a ler –
em silêncio! - durante a aula. Dúvidas? No fim. E no fim a campainha apanhava-o
já à porta da sala, prestes a desaparecer por entre os plátanos do pátio sul do
Camões. Nesse ano de 75 as classes passaram a ser mistas e, entre outras
novidades igualmente truculentas, o ar andava denso de hormonas. De tal modo a
paciência de Virgílio Ferreira se havia esgotado que nem para se mostrar
descontente tinha disposição. Era uma sombra de meio-dia que só desejava não
ser importunada pelos estados de alma da época. Valia-nos que não se armava em
pedagogo, nem concedia que o admirassem, pelo que também lhe fazíamos o favor
de não lhe ligar. Anos depois, ao ler a “Conta Corrente” pareceu-me detectar
uma referência à nossa azougada turma, numa frase suspirada como um encolher de
ombros, mas sem pez pejorativo. Na verdade, a distância que Virgílio Ferreira
nos impunha, seria igual àquela que manteríamos em face de uma figura que
sentíamos como imponente. Alguns de nós até haviam lido os seus romances.
Isabel Campos
Realmente Vergílio Ferreira não deixou muito boas recordações como professor. Ainda hoje ouvi Pedro Rolo Duarte, seu ex-aluno no Liceu Camões, a afirmar isso mesmo e, por outro lado, a exaltar o seu talento como escritor. Não sei se seria só nos últimos anos de carreira ou se, como tantos outros, foi obrigado a ensinar por outras razões... Parece que detestava dar aulas. Certo é que Vergílio Ferreira é um dos maiores nomes da nossa literatura, um dos meus preferidos "Para sempre" e "Até ao fim". Vale a pena ler a entrevista de Pedro Rolo Duarte aqui: http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/196341.html
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