30/11/2010

A Magia do Moinho

No Moinho
(Adaptado por João Pedro Castro e Carlos Torres)
Eça de Queirós
A Magia do Moinho

Maria Piedade tinha mudado. Não esquecia aquele beijo que Adrião lhe tinha dado no moinho. Aquele lugar tornara-se mágico.
 Sempre que via o moinho, lembrava-se dos momentos passados na companhia de Adrião e nas longas conversas que tiveram juntos. Não os querias apagar da memória. Necessitava, sem dúvida, de um novo rumo na sua vida. Estava cansada de nunca pensar em si.
Numa noite de luar, estava junto da janela a olhar para o céu quando lhe veio à memória o que o primo lhe tinha dito “…eu podia alugar o moinho, fazer-me moleiro…” Porque não? - pensou ela. Alugava o moinho trabalhava junto daquelas paredes que um dia viram a magia acontecer. Ao mesmo tempo mudava a sua vida.
Nessa noite mal conseguiu dormir com o entusiasmo. Será que o marido ia permitir que ela se ausentasse de casa. E com os filhos, como seria?
Madrugou com vontade que o dia tivesse quarenta e oito horas. Preparou com entusiasmo o pequeno-almoço dos filhos e foi contar ao marido a sua vontade.
- João, gostava que me desses a tua atenção durante uns minutos.
- Claro que sim. O que pretendes?
- Tenho dedicado a minha vida a ti e aos nossos filhos.
- E que muito te agradeço. – interrompeu João.
- Mas eu não quero só isto para mim. E esta noite surgiu-me uma ideia que me ia fazer muito feliz. Gostava de alugar o moinho!
- Como?! Ias ser moleira?! – exclamou espantado.
- Sim. E se o negócio funcionasse, compraria o moinho! - disse ela, feliz com a sua ideia.
- Maria, quero que saibas que fico orgulhoso do teu projecto. Não durarei o tempo suficiente para o ver concretizar-se. No entanto, quero que lutes por ele, mas nunca descures dos nossos filhos.
- Claro que não! Terei sempre alguém em casa para cuidar de ti e dos meninos. Obrigada por me dares força na concretização deste projecto. Ainda hoje vou falar com o Tio Costa para ver se fecho o negócio.
Assim o fez. Depois do almoço apressou-se a ir ao encontro do dono do moinho. Apresentou a sua proposta que logo foi aceite. Pois era a melhor forma que o Tio Costa encontrava para conservar o moinho.
Foi necessário remodelar o moinho. As obras começaram e depressa ficou pronto a funcionar. O sonho estava quase a concretizar-se.
As pessoas da aldeia estavam admiradas com a Maria da Piedade. A força e o entusiasmo que ela demonstrou fizeram com que as pessoas ficassem com vontade de ir ao moinho.
João Coutinho estava a piorar. Maria da Piedade com receio que ele não visse o seu sonho concretizado, correu para o moinho e pô-lo a trabalhar. Moeu rapidamente um cesto de milho e trouxe a farinha para casa.
Quando chegou a casa, amassou a farinha com um pouco de água e cozeu o pão no forno quente. Levou-o, ainda quente, ao quarto do marido.
- Este pão foi feito por mim e a farinha foi moída no meu moinho. - disse ela com a voz trémula.
- Cheira bem! – respondeu ele com a voz cansada e um sorriso fraco.
- Quero que o proves.
Tirou um pedaço do pão e deu-lhe para a mão. Mas ele já não podia comer. Agarrou-lhe na mão, apertou-a e deu-lhe um sorriso de adeus.
Maria Piedade chorou, mas sentiu-se realizada porque conseguiu mostrar-lhe que o seu moinho já funcionava.
Os dias passaram-se e Maria começou então a explorar o seu negócio. Todas as pessoas procuravam o seu moinho. A mensagem passou de aldeia em aldeia e o negócio via-se crescer.
Os filhos cresceram e o contacto com as pessoas, o ar livre, o campo, tornou-as felizes e saudáveis. Nunca mais tiveram problemas de saúde. Maria começava a ser feliz!
Sozinha já não conseguia dar resposta a tantas solicitações. Começou por contratar uma ajudante para o moinho e outra para tratar da contabilidade.
Como o negócio corria bem e o lucro era bom, abriu uma padaria junto ao moinho. Moía a farinha e fazia o pão para vender aos seus clientes habituais. Mais tarde começou por distribuir pão pelas aldeias vizinhas.
Tudo corria bem, mas faltava-lhe realizar um desejo: mostrar o seu moinho a Adrião. Queria que ele visse como ela estava transformada e como mudara aquele lugar mágico.
Num dia de manhã bem cedo quando chegou ao moinho, sentou-se nas escadas a recordar a conversa que tinha tido com Adrião, naqueles mesmos degraus. Uma lágrima de saudade correu-lhe sobre a face.
- Ofereço-lhe o meu lenço para enxugar as suas lágrimas!
Maria Piedade levantou-se rapidamente e, quando viu que a mão que lhe oferecia o lenço era de Adrião, desatou a chorar e agarrou-se ao pescoço dele com muita força para nunca mais o deixar partir.
- Adrião, este é o nosso canto! Tudo foi construído a pensar em ti!
- As novidades chegaram a Lisboa. Eu soube que tinhas reconstruído o nosso moinho.
- Fica comigo! - pediu-lhe Maria da Piedade.
- Claro que fico!
Agarrou no lenço e pediu-lhe que lesse as palavras gravadas.

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