29/02/2012

CLUBE DE LEITORES


A propósito da obra de Luís Sepúlveda, “ História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, imagino os sorrisos que a simples leitura deste título desenha nos lábios mais duros ou incautos. Imagino a incredulidade estampada nuns rostos; as marcas da desconfiança, noutros. Imagino os monólogos sussurrados ao próprio umbigo: Pois se nós, humanos, andamos sempre às turras, como é possível um gato e uma gaivota terem tais relações de amizade?
Tudo começa quando Zorbas, um gato grande, preto e gordo, tenta cumprir a promessa que fez a Kengah, a gaivota moribunda que um dia caiu na sua varanda quando estava a apanhar sol. E que promessa ele lhe fez! Prometeu ensinar a pequena gaivota a voar! É ajudado nesta mega tarefa pelos seus amigos felinos: Collonello, Secretário, Sabetudo e Barlavento, um bando de gatos de rua, do porto de Hamburgo, habituados apenas a tratar da sua sobrevivência.
Neste livro, Sepúlveda, exalta as verdadeiras amizades, ainda que improváveis e inimagináveis ao mesmo tempo que condena a poluição dos oceanos, por parte das companhias de navegação e petrolíferas, a chamada maré negra, que fora a causa da morte da gaivota Kengah.
Imbuído de enorme respeito pelo ambiente, defensor da biodiversidade, ativista do “Greenpeace”, Sepúlveda prometeu um dia aos três filhos escrever uma história sobre as atrocidades cometidas pelo Homem contra a Natureza. E eis que surge a história do gato grande, preto e gordo e da sua protegida Ditosa, a pequena gaivota, que ele e o poeta, numa noite de chuva intensa, ajudaram a voar.
Esta é uma história para todas as idades, na qual a lealdade, a amizade e a honra estão bem patentes.


 Recentemente, quando lia a obra “As Rosas de Atacama” do mesmo autor, descobri no interior das suas páginas o conto “O Amor e a Morte”. Nesta obra, o autor dá a conhecer personagens excecionais que havia conhecido e cujas histórias mereciam ser contadas. Por esse motivo, fiquei intrigada por Zorbas ser uma dessas personagens até me aperceber que ele, o gato grande, preto e gordo, foi afinal um gato verdadeiro, o gato de estimação de Sepúlveda e dos seus três filhos e que foi, segundo as palavras do próprio autor “… nosso companheiro de sonhos, histórias e aventuras durante muitos anos”.
Neste conto, Sepúlveda conta que no dia em que recebeu o primeiro exemplar do livro “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, “… estava Zorbas a ser examinado por um veterinário…Fui busca-lo à noite e ouvi a terrível sentença: lamento, mas o gato tem um cancro pulmonar muito avançado”.
 E é numa linguagem emocionada que conta como conseguiu evitar o sofrimento e preservar a dignidade daquele companheiro de aventuras, também ele uma personagem excecional na sua vida e na dos seus filhos.

Maria Ana Mendes

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