05/04/2012

PÁSCOA






António Manuel Couto Viana viu assim a Páscoa:






É tempo de Páscoa no Minho florido.
Já se ouvem os trinos dos sinos festeiro
Na igreja vestida de branco vestido,
Entre o verde manso dos altos pinheiros.

Caminhos de aldeia, que o funcho recobre
Esperam, cheirosos, que passe o compasso
À casa do rico, cabana do pobre...
Já voam foguetes e pombas no espaço.

Lá vêm dois meninos, com opas vermelhas,
Tocando a sineta. Logo atrás, o abade
Já trôpego e lento. (As pernas são velhas
Mas no seu sorriso tudo é mocidade.)
                    
Com que unção o moço sacristão, nos braços
Traz a cruz de prata que Jesus cativa,
Para ser beijada! Enfeitam-na laços
De fitas de seda e uma rosa viva.

Um outro, ajoujado ao peso das prendas
 (Não há quem não tenha seu pouco pra dar...)
 Traz, num largo cesto de nevadas rendas,
  Os ovos, o açúcar e os pães do folar.

 Mais um outro, ainda, de hissope e caldeira
Cheia de água benta, abre um guarda-sol.
 Seguem-nos, e alegram céus e terra inteira,
 Estrondos de bombos e gaitas de fol.

  Haverá visita mais honrosa e bela?
  Famílias ajoelham. A cruz é beijada.
  (Pratos de arroz-doce, com flores de canela,
  Aguardam gulosos na mesa enfeitada.)

  Santa Aleluia! Oh, festa maior!
  Haverá mais bela e honrosa visita?
  É tempo de Páscoa. O Minho está em flor.
  Em cada alma pura Jesus ressuscita!

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