06/04/2013

OS MEUS LIVROS

   Se me questionassem sobre qual foi o livro que mais me marcou, ficaria sem saber o que responder durante alguns momentos. Alguns momentos, é como quem diz, pois essa reflexão poderia levar horas, se não dias. Poderia também acontecer não conseguir chegar a uma conclusão, ou seja, não conseguir eleger um, e apenas um de entre as pilhas de livros que li até hoje.

  É minha convicção que há livros certos para idades certas. A obra lida numa determinada fase da vida pode, anos mais tarde, já não nos dizer quase nada.
   No entanto, se continuassem intransigentemente a exigir um título, bem, nesse caso, teria certamente escolhido: “A mãe” de Máximo Gorki. Lembro-me que quando o li, se vivia o tempo do pós “25 de Abril” e que me encheu a alma. Hoje, apenas recordo que na altura me identifiquei e solidarizei de imediato com a revolta dos jovens operários e camponeses russos contra o czar Nicolau II.

   Caso notasse alguma flexibilidade e me fosse permitido escolher outro livro, então receio que a torrente jorraria sem que eu a pudesse ou quisesse controlar. Acrescentaria “O velho que lia romances de amor” de Luís Sepúlveda, “A jangada de pedra”, “O memorial do convento”, “Levantado do chão” e quase toda a vasta obra de José Saramago.
   
   Diria ainda todos os livros de “Os cinco”, Enid Blyton que tantas aventuras me fizeram viver. E aqueles lanches deliciosos que os primos preparavam sempre que lhes “cheirava” a aventura? Ia lá esquecer-me dessa coleção!


 
     E aquela fase em que me entusiasmei com a leitura de “ O processo” de Franz Kafka, que relata a detenção de Joseph K no seu próprio quarto, no dia em que completava trinta anos de idade! O que mais me fascinou foi a busca do motivo da sua detenção, desconhecido também para ele e as esperanças que ia alimentando para sair daquela situação e que inevitavelmente saiam goradas. Foi fácil estabelecer um paralelismo entre a história narrada e o ambiente de secretismo e terror que se vivia na altura em países da América Latina e mesmo em Portugal.

   
Se quem me questionou ainda me quisesse ouvir, falaria ainda de Agatha Christie e da personagem que mais me fascina nos seus romances: Miss Marple, aquela figura idosa e franzina, cuja aparência modesta e insignificante encobre um espírito crítico apurado e uma mente sagaz e raciocínio lógico.
      Há quem considere a literatura policial como uma escrita menor. Não concordo!

      E não serão estes alguns dos aspetos que fazem uma grande obra? Na minha opinião, este tipo de literatura tem enormes potencialidades. E neste domínio, Agatha Christie é leader. Posso ter um livro muito interessante para ler, mas se me acenam com um livro da autora que ainda não li – e já vão sendo poucos - adeus livro interessante! Enquanto não acabar de o ler, não descanso. E é assim que entendo uma grande obra: cativante, do princípio ao fim. Deixo ficar tudo em suspenso e aproveito todos os minutos para ler mais um bocadinho e à noite, antes de dormir, só mais meia horinha, só mais este capítulo…

  O que me fascina tanto na obra de Agatha Christie? O retrato da Inglaterra rural?; Os costumes ingleses?; O mistério?; A linguagem envolvente e viciante?
   Tudo isto, certamente!
   Maria Ana Mendes     

1 comentário:

  1. Que linda reflexão sobre os livros que nos marcaram.. Eu recordo com carinho e entusiasmo "Os Sete, "Os Cinco" e "As Gémeas no Colégio de Santa Clara" que li com sofreguidão nos tempos idos da minha infância.
    Ultimamente, entre muitos e muitos que li, destacaria "A Filha do Capitão" de José Rodrigues dos Santos e "O Equador" de Miguel de Sousa Tavares. A leitura preenche-me e tem-me acompanhado ao longo da vida..
    Flora Douteiro

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