Sem transição, o povo português passou da boa consciência de um sistema semitotalitário ou mesmo totalitário, para a boa consciência revolucionária, sem mesmo se interrogar sobre tão complexa e súbita conversão das Forças Armadas fiéis ao antigo regime em força democrática e vanguardista. Sobretudo, sem se interrogar acerca das consequências de toda a espécie que a Revolução arrastaria consigo ou de que já era consequência. A Revolução de Abril foi recebida e festejada como uma simples mudança de cenários gastos que não alteraria o pacatíssimo e delicioso viver à beira-mar plantado, nem alteraria em nada a imagem que os portugueses se faziam de si mesmos. Ou antes sim, para "melhor". De cidadãos de um estado opressivo, sem gozo de direitos cívicos normais ao contexto europeu, tornavamo-nos, por milagra, cidadãos «à part entière» da Europa e do mundo democrático.
O Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço, (1978)
Não Gostei
ResponderEliminarObrigada pelo comentário.São sempre bem vindas as opiniões de quem nos segue..
Eliminar