Ladino, um dos contos de Os bichos publicados em 1940, a par com Miura, Tenório, Madalena, Ramiro, Farrusco, Nero, Morgado, Bambo, etc, faz-nos recordar a esperteza, o despacho, a manhosice de alguns dos nossos. Saber levar a vida é, para alguns, uma sabedoria um orgulho...
Miguel Torga morreu há 20 anos. Leiam-no. Está na BE. Fica aqui as primeiras linhas de Ladino:
Grande bicho, aquele Ladino, o pardal! Tão
manhoso, em toda a freguesia, só o padre Gonçalo. Do seu tempo, já todos tinham
andado. O piolho, o frio e o costeio não poupavam ninguém. Salvo-seja ele,
Ladino.
Mas como havia de lhe dar o lampo, se
aquilo era uma cautela, um rigor!... E logo de pequenino. Matulão, homem feito,
e quem é que o fazia largar o ninho?! Uma semana inteira em luta com a família.
Erguia o gargalo, olhava, olhava, e - é o atiras dali abaixo!... A mãe,
coitada, bem o entusiasmava. A ver se o convencia, punha-se a fazer folestrias
à volta. E falava na coragem dos irmãos, uns heróis! Bom proveito! Ele é que
não queria saber de cantigas. Ninguém lhe podia garantir que as asas o
aguentassem. É que, francamente, não se tratava de brincadeira nenhuma!
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