Gaspar, Melchior e Baltasar saíram dos seus palácios, escolheram as suas prendas e puseram-se a caminho. Um estrela, uma Luz, guiou-os durante o percurso. A estrela que, todos os anos, se coloca no presépio. A Luz que nos indica o caminho e nos guia.
Sophia de Mello Breyner Andresen, em Os três reis do oriente, conta-nos essa viagem de cada rei e a estrela que os guiou.
Primeiro pareceu a Gaspar que a estrela era uma palavra, uma palavra de repente dita na muda atenção do céu.
Mas depois o seu olhar habituou-se ao novo brilho e ele viu que era uma estrela, uma nova estrela, semelhante às outras, mas um pouco mais próxima e mais clara e que, muito devagar, deslizava para o Ocidente.
E foi para seguir essa estrela que Gaspar abandonou o seu palácio.
(...)
Nessa noite, depois da Lua ter desaparecido atrás das montanhas, Melchior subiu ao terraço e viu que havia no céu, no Oriente, uma nova estrela. (...)
E sobre o mundo do sono, sobre a sombra intrincada dos sonhos onde os homens se perdiam tacteando, como num labirinto espesso, húmido e movediço, a estrela acendia, jovem, trémula e deslumbrada, a sua alegria.
E Melchior deixou o seu palácio nessa noite.
(...)
A estrela ergueu-se muito devagar sobre o Céu, a Oriente. O seu movimento era imperceptível. Parecia estar muito perto da terra. Deslizava em silêncio, sem que nem uma folha se agitasse. Vinha desde sempre. Mostrava a alegria, a alegria una, sem falha, o vestido sem costura da alegria, a substância imortal da alegria.
E Baltasar reconheceu-a logo, porque ela não podia ser de outra maneira.
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