17/05/2015

DIÁRIO

   Ler diários, cartas ou biografias não significa "bisbilhotar", mas sim conhecer uma época, uma pessoa, hábitos e curiosidades.
  Nessas leituras, encontrámos, numa carta de Sophia de Mello Breyner Andresen a Jorge de Sena, as dificuldades diárias de uma poetisa que também tem de dar conta de atividades mais banais e de gerir, em simultâneo, a necessidade de escrever. Belo texto! 


 Há dias aconteceu-me isto: comecei a escrever um poema à tarde, mas fui tão interrompida que desisti. À noite tentei acabá-lo mas estava cansada demais e dispersa em mil bocados. No dia seguinte de manhã fui com a cozinheira à praça. E de repente no meio de peixes, das couves e das galinhas pensei que precisava de parar um minuto, um minuto de férias sem cálculos nem contas. Então mandei à cozinheira que fosse ela comprando os legumes e "fugi" para o café da praça e pedi um café ao balcão. Enquanto estava a tomar o café lembrei-me do poema da véspera e pedi ao empregado que me emprestasse um papel e um lápis. Foi assim que consegui acabar o poema num misto de pausa e de euforia.
  Depois fui a correr comprar a fruta! Isto é a minha vida! Mas às vezes fica tudo mal escrito e mal vivido. 

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