23/02/2016

UM HERÓI DA I GUERRA

Ao meu bisavô, herói da 1ª Grande Guerra - Alferes de Infantaria José da Silva e Souza



Foi há 100 anos, a 23 de fevereiro de 1916 que, pressionado pela Inglaterra, o governo português de então ordenou o aprisionamento dos barcos alemães que estavam nos em todos os portos portugueses (num total 38 em Lisboa e 34, distribuídos pelos restantes portos do continente, Açores, Angola  e  Moçambique). 
 Foi este o passo decisivo para o envolvimento de Portugal no conflito que se iniciara em 1914. As relações diplomáticas com a Alemanha e a Áustria-Hungria já estavam agastadas desde o início do mês, quando um decreto da República estabelecia a requisição de matérias primas aos barcos alemães estacionados nos nossos portos.
 Poucos dias volvidos, a 9 de março, o ministro plenipotenciário alemão em Portugal, o barão Otto Karl Von Rosena entrega a declaração de guerra a Portugal.
 E foi assim que o alferes José da Silva e Souza, natural de Braga, foi integrado no CEP, no Regimento de Infantaria 29 de Braga, como tantos outros.
 Parte para França no dia 26 de dezembro de 1916 depois de uma rápida preparação para a guerra feita em Tancos e orientada pelos ingleses. A sua estada na frente de guerra prolongou-se até ao termo dos serviços das tropas portuguesas em França e na Flandres, regressando a 19 de março de 1919.
 Dada a sua bravura na defesa dos seus subordinados e na defesa das linhas aliadas, foi condecorado com a Cruz de Guerra: tinha sob seu comando o posto Shetland e, nos duros combates de 7 e 8 de julho de 1917, tendo já sido ferido (no ombro esquerdo), não podia deixar os seus praças expostos aos bombardeamentos, verificando na retaguarda se estavam soldados que necessitassem da sua ajuda e proteção, foi novamente ferido (alto da perna direita, bem como muitas contusões no corpo todo), mas com coragem e abnegação não abandonou o posto enquanto não viu aqueles que comandava fora da mira das armas inimigas. Assim, recebeu uma primeira condecoração – Cruz de Guerra de 2ª Classe, pelo Decreto de 5 de novembro de 1917, todavia o seu registo no CEP atribui a insígnia cerca de um mês antes (13/10/1917).
 Os bombardeamentos chegam a ter uma duração de três dias e o meu bisavô, juntamente com os seus praças ripostaram e aguentaram duramente as condições das trincheiras, de noite, aquando dos períodos de acalmia da artilharia inimiga, reconstruíam o que os alemães tinham destruído de dia. Chegou a sugerir combater, apesar de ferido, na linha inglesa. Falava com fluência o inglês e o francês situação que lhe permitiu um melhor contacto com as outras linhas de combate dos Aliados
 Foi igualmente condecorado com a medalha comemorativa da Campanha de França e foi promovido a Tenente. A Ilustração Portugueza, nº 1598, de 06 de agosto de 1917 também evidenciou o a coragem e fidelidade deste nosso herói com a publicação de um artigo sobre os seus feitos nas trincheiras durante a 1ª Guerra Mundial.
 Regressa por via terrestre a Portugal em março de 1919 e acaba por falecer em 26 de abril de 1924, com 40 anos, vítima de problemas pulmonares causados pela inalação de gases durante o período em que esteve na frente de batalha.

 Deixo esta pequena homenagem a um homem que não conheci mas que sempre me foi lembrado pelo seu filho e meu avô, Joaquim da Conceição de Oliveira e Sousa, que viu o pai partir quando tinha apenas 18 anos e que não quis morrer sem contar parte da História de um dos muitos heróis que representou Portugal na 1ª Grande Guerra.

Condecorações recebidas

Flora de Sousa Douteiro
(Professora de História - AE de Monte da Ola)

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