26/05/2016

CORPUS CHRISTI

  D. João V (1689-1750), o Magnânimo, foi o representante máximo de um barroco excessivo, do ouro sobre azul, dos gastos de toda a riqueza que o ouro do Brasil permitia. Esta pintura de Jean  Ranc retrata o gosto da época - a cabeleira, os drapeados, as sedas e brocados, as jóias, o aparato - bem no estilo da corte francesa que ditava a moda.


  Dele ficou-nos o Convento de Mafra, a magnífica Capela de São João Baptista na Igreja de S. Roque, a Biblioteca Joanina, o Aqueduto das Águas Livres e muitas outras construções.
 Fervoroso praticante da religião, não dispensava um auto de fé e tinha na procissão do Corpus Christi uma especial devoção, querendo torná-la não uma festividade popular, mas mais uma manifestação de sumptuosidade. José Saramago, O memorial do convento, descreve assim o descontentamento da população:
 

  «Pergunta então o povo que procissão vem a ser essa,se não podem sair os foliões da Arruda atroando as ruas com o seu pandeiro,se estão as mulheres de Frielas proibidas de dançar (…) se não saem castelos, (…),se não navegará aos ombros de homens a nau de S. Pedro, que procissão teremos, que gosto nos vão tirar.»



  O rei ordenou que a tradição não fosse mantida, pelo que, a 12 de Maio de 1717, Diogo Mendonça de Corte Real transmitiu as ordens régias ao Senado da Câmara de Lisboa (…)
Que não vão na procissão tourinhas, gigantes, serpe adrago e esparteira, carros e as coisas semelhantes que costumam dar os ofícios, nem dança alguma, nem os mouros que costumam ir junto a S. Jorge.
  
 Para maior magnificência da procissão, o rei D. João encomendou ao arquitecto João Frederico Ludovice, o autor do projeto de Mafra,  em 1719 a ornamentação das ruas por onde ela desfilava (…). 
 Avisado das avultadas despesas, o rei simplesmente mandou responder que aqueles gastos seriam feitos pelas rendas da câmara e que, se fosse necessária uma nova taxa para tal, deveria ser a «menos gravosa». (…)
Em 1733 os preparativos para a procissão do Corpo de Deus  fizeram-se «com a costumada magnificência», mas nesse ano com uma novidade: as armações tinham sido feitas em Paris e Bruxelas.  

 Para aprofundar este tema poderão requisitar na BE o livro de Maria Beatriz Nizza da Silva, D. João V, de onde foram transcritos os textos em itálico.

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