28/06/2016

FOTÓGRAFO AMBULANTE

Fotógrafo em Santa Luzia

 Das poucas vezes que vieram os retratistas, com antiquíssimas máquinas que assentavam num tripé, juntávamo-nos para admirar o modo como o homem se compenetrava a preparar o seu engenho. Havia uma manga de flanela preta, e o homem enfiava a cabeça por ela dentro para farejar as pessoas de longe. Vinha na véspera das festas. (...) Não havia vez nenhuma  que ele não saísse de dentro da sua manga de flanela para vir endireitar uma cabeça, estreitar um pouco mais as pessoas para que ficassem no campo da lente, compor melhor a posição dos braços, o arco do pescoço, a altura das cabeças. (...)
  A minha e a infância dos meus irmãos ficou apagada do tempo e do luxo dos retratos. Nunca fomos de anjo nas procissões e nunca os meus pais se comoveram com a voz suplicante desses retratistas de fora da terra que garantiam a perfeição humana e a arte de emprestar à vida um pouco de sabor e saudade.

   De um livro a ler, ou reler, estas férias.



  A BE empresta.

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