06/02/2017

PERSONALIDADE +

De Ana Soromenho,  no Expresso - Revista, desta semana.
      Autorretrato, José de Almada Negreiros

     Em agosto de 1934, José de Almada Negreiros e Sarah Afonso passam férias com amigos em Moledo do Minho. Almada, então com 41 anos casara-se nesse ano com a pintora de Viana do Castelo, que aos 15 anos viera para Lisboa estudar na Escola de Belas-Artes. Tal como Almada, Sarah passara uma temporada em Paris e, no regresso a Lisboa, entre as exposições e as tertúlias na Brasileira do Chiado, cruzara-se com esse artista complexo, seis anos mais velho do que ela, que dera que falar no minúsculo meio português e alcançara o estatudo de mais importante na sua geração.
     Sarah está grávida, o verão de 34 é um tempo convivial. Entre vários programas, decorre um tradicional arraial na praia, onde o artista, inspirado num episódio dessa época balnear – uma passeata de barco até à pequena ilha em frente à praia de Moledo que quase acaba em naufrágio – improvisa uma espécie de filme mudo. Numa sequência de 64 imagens em papel de seda iluminado por trás, apresentado como um ecrã de cinema, passam em traço fino e cheio de humor os veraneantes do grupo. Entre eles, o artista surrealista António Pedro e o próprio Almada, que não estava no passeio e se inscreve em autorretrato com a mulher e no guião da história trágico-cómica que resulta numa lanterna mágica.
     Esta obra singular, “O Naufrágio da Ínsua”, de carácter aparentemente efémero e feita num registo de brincadeira entre amigos, esteve guardada durante 83 anos na casa de família de um desses veraneantes com quem Almada e Sarah passaram férias e é agora pela primeira vez mostrada ao público como uma das peças mais significativas da exposição “José de Almada Negreiros: Uma Maneira de Ser Moderno”, que acaba de ser inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian. (…)

Correção nossa: a leitura do artigo pode induzir em erro sobre a cidade onde Sarah Afonso nasceu - Lisboa, 1899. Viveu em Viana até aos 14 anos. O pai, oficial do exército,  foi aqui colocado logo após o nascimento da pintora.

Sarah Afonso e Almada Negreiros, em Moledo, 1934




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