27/03/2017

DIA MUNDIAL DO TEATRO

   Neste dia, trazemos uma figura incontornável no teatro português que nos é muito próxima:     António Pedro.
  Nasceu na cidade da Praia, em Cabo Verde, a 9 de Dezembro de 1909, numa família com raízes minhotas e irlandesas. Em 1955, num texto autobiográfico, podemos ler: Esta metade galaico-minhota e irlando-galesa do meu sangue fez-me gostar de gaitas de foles, de instrumentos de percussão e da conquista do impossível. Como meus tetravós celtas, se eu pudesse, atiraria setas ao sol. Minha família, no entanto, é de gente burguesa e bem-pensante. 
Dois auto-retratos de António Pedro, 1940.

  Passou por Seixas, La Guardia (Galiza), Viana do Castelo, Coimbra, Lisboa, Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Londres e Porto, tendo acabado os seus dias em Moledo.
A casa em Moledo

 Uma vida curta, faleceu com apenas 56 anos, mas muito intensa e com um enorme impacto na cultura portuguesa. Cruzou as áreas da literatura, pintura, desenho, cerâmica, ensaio, política e jornalismo (na B.B.C, durante a segunda guerra mundial, a voz dos portugueses que recusavam o monstro nazi-fascista, segundo Luiz Francisco Rebello). A sua obra Apenas Uma Narrativa é considerada, por muitos estudiosos, o primeiro romance surrealista da literatura portuguesa. Nas palavras de Eduardo Lourenço, um milagre sem repetição e nas de Jorge de Sena, obra-prima do romance surrealista.

  Antonio Pedro sonhou que um dia em São Lourenço da Montaria, uma rã pediu a Deus para ser grande como um boi. E que aliás foi, Deus é que rebentou, graças ao A. P. e ao Minho, onde ele se armou feiticeiro da imaginação, avejão lírico e, é claro, demagogo da visualidade dessa mesma circunstância indispensável aos génios.
 Por essas e por outras, vigílias e sonhos, é que nós, os devotos do A. P. íamos aprendizar nas romarias em Moledo a nossa alegria rã. Porque nos anos 50, sem ele na confabulação e convertendo-nos sigilosamente no Pinhal de Camarido, nem Portugal existia. Daí porque a fabulosa e bem humorada lamentação, de surrealismo minhoto, malicioso, se fazia necessária e nos aliciava para romeiros. Parávamos de coaxar, uns em Lisboa, outros no Porto e até alguns que chegavam de Paris para atracar no vasto Antonio Pedro. Ali se ia dar pulos, sonhar e ser rã.
Fernando Lemos, Apenas uma despedida

  No final da época de 50, Alexandre Babo e Eugénio de Andrade conseguem que aceite o papel de director artístico do recém-criado Círculo de Cultura Teatral - Teatro Experimental do Porto (TEP). O encenador revolucionário, como ficou conhecido, marcou pela diferença, abrindo novos caminhos para o teatro português. 
António Pedro e a atriz brasileira Maria della Costa, em Moledo, na década de 1950.
  Referindo-se à vida em Moledo, Fernando Lemos escreveu sobre o amigo Gigante - metafórica e literalmente (António Pedro media 2 metros o que lhe valeu ser dispensado do serviço militar): 
 Ali o Gigante foi-se aninhando num exílio demorado. O homem das sete léguas, avejão lírico que não cabia dentro de si nem na medida dos outros, ali foi engendrando a sua base e o seu ponto final.  Andou no Brasil como pintor, na África como jornalista, pelas várias Europas como intelectual, sempre insatisfeito, curtindo a mágoa de ser Gigante.


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