10/05/2017

IN MEMORIAM


Baptista-Bastos (BB)
1934-2017
Iniciou a sua carreia jornalística em “O Século”, mas foi so serviço do “Diário Popular” – onde trabalhou durante vinte e três anos (1965-1988) – que haveria de conquistar maior notoriedade, sobretudo em géneros como a entrevista e a reportagem.
Torna-se mais conhecido do grande público pelas entrevistas realizadas na SIC entre novembro de 1996 e janeiro de 1998. Nessas “Conversas Secretas”, fazia a todos os convidados a pergunta "onde é que estavas no 25 de Abril?" 

 Bastos, com obra publicada, escrevia primorosamente e não tolerava tiques de escrita, modismos ou prosas escritas à pressa. Muito menos cacofonias, erros de sintaxe ou de ortografia. Ainda não se sonhava com acordo ortográfico e já ele berrava a plenos pulmões: “Isto não é escrever por sons, senão samarra escrevia-se com c cedilhado”.
Seria impensável naquele tempo encontrar nas páginas do “Diário Popular” prosas cheias de “implementar”, “imperdível”, “emblemático”, “de acordo com” e demais barbaridades hoje tornadas corriqueiras, para não falar nos desmandos vindos de quem nem fala inglês nem português e nos mimoseia com “serviços de inteligência”, “oficiais do governo”, “adictos” ou “jovens mulheres”…

Rui Cardoso, também aqui

2 comentários:

  1. Seria impensável naquele tempo encontrar nas páginas do “Diário Popular” prosas cheias de “implementar”, “imperdível”, “emblemático”, “de acordo com” e demais barbaridades.
    Gostaria de saber por que é incorrecto utilizar os termos acima mencionados?

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    1. Pensamos que o texto de Rui Cardoso sublinha a importância que Baptista-Bastos dava à qualidade da escrita, bem como o respeito que tinha pela língua. O “príncipe da escrita”, como o apelidavam os colegas jornalistas, não compreendia, por exemplo, a utilização de anglicismos como implementar ("to implement") quando o nosso vocabulário é tão rico. Criticava também as “modas” no jornalismo, as frases feitas que servem para tudo e para nada.
      Não é incorrecto utilizar os termos referidos. No entanto, um "príncipe da escrita" evita-os. "Enchi a vida de palavras, na tentativa de as perfilar com honra e na presunção de ser emissário de algumas verdades. Nunca as palavras, para mim, foram exercícios de futilidade, ou perversos jogos de ocultação. Também elas me ensinaram a vigiar o meu próprio arbítrio, e me levaram a compreender que a sua beleza interior, o significado oculto dos seus étimos constituíam o corpo do seu poder subversivo (...)" Baptista-Bastos

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