23/05/2017

PERSONALIDADE +

Eduardo Lourenço faz hoje 94 anos.
Um dos maiores pensadores do nosso tempo. Surpreende pela lucidez e forma única de pensar Portugal. Também tem um diário – uma espécie de «diário cultural», como o filósofo lhe chama.



O que eu sou como ser mortal (o que todos somos), está contido na melancolia absoluta do allegretto da "Sétima Sinfonia". Mas o que desejaria ser, o que não tenho coragem de ser, só se revela nesta "Suite em Si Menor", de Bach. Diante desta torrente luminosa devia depor a minha velha pele, esta pele de que só a música me despe num instante, deixando-me nu e redimido, mas que no instante seguinte afogo em trevas. Delas só um Deus me poderia libertar. Digo Deus sabendo bem que esse absoluto que me atrevo a invocar é ainda o supremo álibi. É de mim, das ardentes seduções do meu profundo ser, que não quero ou de que não sou capaz de abdicar. Queria ir por um caminho de rosas para aquele sítio onde sei que me foi fixado encontro. E ninguém lá chega nunca sem antes morrer para si mesmo. 
in Tempo da Música, Música do Tempo, Eduardo Lourenço
Org. de Barbara Aniello


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