21/07/2015

DELAUNAY

 A propósito da exposição Sonya Delaunay, na Tate Modern, Londres, Jorge Calado, sempre ele, fala-nos do casal Delaunay, de arte, de ciência, de música, de luz, de Viana.


 É sempre uma coincidência feliz gozar esta exposição de Sonia Delaunay (1885-1979) no Ano Internacional da Luz. A cor é uma propriedade da luz. (Os físicos chamam-lhe comprimento de onda.) No entanto, foi a teoria (errada) da cor publicada por Goethe em 1810 - muito mais do que a "Óptica" (1704) certa de Newton - que influenciou profundamente a pintura. O quadro "Luz e cor - A manhã após o dilúvio" (1843), de Turner, é uma homenagem declarada a Goethe.


                                   
 Quando, cerca de 1910, Sonia e Robert Delaunay inventaram o Simultanismo Abstrato, à base do contraste de cores e formas, desconheciam que a simultaneidade (ou não) de acontecimentos era um dos esteios da teoria da relatividade restrita publicada por Einstein em 1905. Arte e ciência caminham de mão dada, mesmo que mutuamente se ignorem (sublinhado nosso). Ao pintar os "Prismas Elétricos" (1913/14) - a que chamou "estudos de luz" (isto é, de cor) -, Sonia limitava-se a refratar a luz de Newton.


Prismas elétricos
   Na Rússia, Aleksandr Scriabine tinha composto o "Prometeu, poema do fogo" (1910/11) imaginando um 'cravo de luzes' que banhasse a sala de concerto com luzes  de várias cores, em sintonia com as diversas tonalidades da música (por exemplo, azul - a cor da razão - para fá menor, etc.).


 Influenciada por Van Gogh e Gauguin, pelo artesanato russo, tal como o pincel, a agulha permitia~lhe libertar-se da linha para se concentrar na cor. 
  Para a cama do filho cria uma colcha de retalhos, com cores e formas diferentes que vai ser uma obra importante na sua longa carreira, num ambiente "simultâneo"


que, para além da pintura, inclui moda, 



a pintura de um carro desportivo - Matra 530, etc, etc.
  


 A guerra de 1914 apanhou os Delaunay no País Basco; daqui seguiram para Lisboa. Os seis anos seguintes seriam divididos entre Espanha e Portugal (...). Já conheciam (de Paris) Eduardo Viana e Souza-Cardoso. Instalaram-se na casa de Viana (que batizaram de 'Vila Simultânea') em Vila do Conde e, mais tarde, em Valença. (...) 
  A fase portuguesa está bem representada na exposição da Tate Modern: é fácil reconhecer as pinturas à moda do Minho, em tons vermelhos, verde, laranja e amarelo (como os vestidos das festas tradicionais). Dominam as formas circulares do sol, das arrecadas e dos pratos e alguidares vidrados.

                                                  

6 comentários:

  1. Muito bom, Isabel. Sabes que quando viveram em Vila de Conde, algumas mentes perversas suspeitaram que eram espiões alemães. Achavam esses iluminados que os quadros expostos ao sol eram mensagens em código. Valeu-lhes o pai de Souza-Cardoso. Um casal muito à frente do seu e nosso tempo.

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    1. Muito obrigada. Mais uma achega sobre os Delaunay em Portugal. Depois de ter escrito este post, tentei mais informação sobre a permanência em Viana, mas apenas encontro referência a Vila do Conde e Valença. Era, realmente, um casal fantástico. Já ando há procura de uma biografia...
      Espero que possamos trabalhar este tema e descobrir se por cá moraram, ou não. Há tanta coisa gira para se descobrir... Faz-se luz... certamente.

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    2. O 1º anónimo, sou eu, a Mili. Penso que não ficaram por Viana. Não será confusão com o facto de terem vivido na casa de Eduardo Viana, em Vila do Conde? Aliás, tiveram uma enorme influência na sua pintura.

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    3. Realmente... É o que faz trabalhar de madrugada... Má leitura, má interpretação, desejo de uma novidade.
      Muito obrigada por teres feito luz.

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  2. Autêntico tratado de História da Arte para os alunos do 9º ano.. Gosto especialmente das "pinturas à moda do Minho" pois podia explorar o assunto com os miúdos.

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  3. Excelente ideia! Esperamos que se multiplique para além da História.

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