No início/final do ano, um dos rituais é/era o preenchimento da nova agenda, assim como a atualização da lista de endereços e telefones, como nos diz Pedro Mexia.
HÁ NOMES QUE FICAM
Há nomes que ficam, sem préstimo, nas agendas,
transitam de ano para ano por inerência
ou desleixo, por vezes o nome próprio.
É uma referência obscura, e nunca houve apelido.
Os números, em poucos anos,
passam de mnemónicas e criptogramas,
indicam sem dúvida que nos cruzámos
com gente que se cruza connosco,
que trocámos telefones como se
trocássemos alguma coisa,
mas tudo muda, os conhecidos
tornam-se amigos e depois desconhecidos.
Estes nomes, posso riscá-los
como se fosse velho e eles mortos,
mas os números, como uma praga,
acumulam-se, escritos
com tintas diferentes
e por vezes nas letras erradas.
Não posso desfazer-me das agendas
nem começar uma todos os anos,
mas já não sou o mesmo:
os números observam as minhas idades
e talvez pudesse agora marcar este
que não me diz nada
e contar tudo
a alguém que não de lembra de mim.
“A vida é importante enquanto se é forte,
ResponderEliminardepois o necessário é suportar,
a cada início do ano sentir a alegria
de comprar a agenda certa.” Gonçalo M. Tavares, em "Os velhos"
Escrevem tão bem.
Mili
Sempre atenta e informada. Gostamos dos mesmos. Obrigada.
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