CURIOSIDADES DA CIÊNCIA

A QUÍMICA, OS COELHOS  E O INGLÊS

 No fundo, todas as substâncias são venenosas (...). Um desinfectante mata bactérias e micróbios, mas em doses exageradas mata também o hospedeiro. Uma dose excessiva de qualquer fármaco pode ser letal; se for mínima, também não actua. (Não há ainda qualquer base científica para a homeopatia – uma forma de medicina alternativa que recorre a diluições sucessivas, que chegam a atingir uma parte em 10, e mais, isto é, sem qualquer probabilidade realista de conterem uma molécula que seja do fármaco em causa!)

     Mesmo quando as experiências eram exteriores ao corpo, o alquimista e os seus sucessores inalavam, respiravam ou absorviam através da pele, sem o saberem, as mais diversas substâncias – a maior parte, altamente perigosa (como os compostos de arsénio, mercúrio e chumbo). O mercúrio é mais outro metal pesado particularmente venenoso (com a agravante de ser líquido e, portanto, volátil). Foi por isso que o mercúrio acabou banido de todas as aplicações domésticas, como, por exemplo, os termómetros clínicos. Os sintomas da doença são irritabilidade e depressão, insómnia, perda de memória e de apetite, senilidade precoce, convulsões, demência, etc. Entre as profissões de risco no século XIX estava a chapelaria. O feltro dos chapéus é feito de pêlo de coelho e de outros roedores, e para o agregar e lhe tirar o brilho, o material é quimicamente tratado com uma solução acídica de nitrato de mercúrio. O envenenamento por mercúrio era, pois, prevalente entre os chapeleiros, que acusavam um comportamento excêntrico – daí a expressão inglesa “mad as a hatter” (maluco como um chapeleiro). É esta, provavelmente, a origem do personagem Chapeleiro (no episódio da merenda e do chá com a Lebre de Março), de Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carrol

 

Haja luz!, Jorge Calado