02/04/2014

LIBERDADE(S)


PAÍS DE ABRIL


            São tristes as cidades sob a chuva
            e as canções que se atiram contra as grades
            - minha pátria vestida de viúva
            entre as grades e a chuva das cidades.

            É triste o cão que ladra no canil
            quando é março ou abril e lhe prendem as pernas
            é triste a primavera no País de Abril
            - minha pátria perfil de mágoas e tabernas.

            É triste: uns vestem-se de abril outros de trapos.
           Tu ó estrangeiro é só por fora que nos olhas
            - minha pátria bordada de farrapos
           capa de trapos remendada a verdes folhas.
 
Abril tão triste no País de Abril. Por fora
          é tudo verde. (Abril com máscaras de festa).
          Por dentro – minha pátria a rir como quem chora
          (A festa da tristeza é tudo o que lhe resta).
 
Abril tão triste no País de Abril. Aqui
          a noite. Aqui a dor. Meninos velhos
          - minha pátria a chorar como quem ri
          em surdina em silêncio. E de joelhos.

Manuel Alegre, Praça da canção

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