Mais um Dia Mundial, o da Pobreza, ocorreu ontem. Há Dias para todos os gostos. Comemoram-se, fazemos o nosso papel, e, de seguida, respiramos aliviados e... tudo fica na mesma.
Laborinho Lúcio, na obra já aqui mais do que uma vez citada, escreve:
Quando eu era criança, na terra onde nasci, havia pobrezinhos. Mesmo o crescidos eram pobrezinhos também. Alguns traziam barba, mas não se dizia «usar». Os pobrezinhos tinham só a barba grande. Por fazer. Como as unhas, das mãos e dos pés. E o cabelo. O pai do Abel também tinha barba. Mas esse usava barba. Era rico. O Abel punha brilhantina no cabelo. Às quintas-feiras, dava sopa e pão aos pobrezinhos da família. Eram dois. Vinham, um de manhã, e outro à tarde. (...)
Havia outros que pediam na rua, encolhidos, a esconderem os restos do calor. Estendiam a mão e suplicavam, de quem passava, «Uma esmolinha, por amor de Deus». Esses eram os pedintes. Não tinham dono e ficavam abaixo dos pobrezinhos. Foram os primeiros a desaparecer quando foi proibida a mendicidade. (...)
Com o tempo, os pobrezinhos transformaram-se em pobres. Cresceram. E nós deixamos de os ter. Não serviam agora de grande coisa, os pobres. E, então, deixamos mesmo de os ver. A pobreza passou a interessar-nos mais. Como categoria.
Não continua tudo igual?
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