17/11/2014

MAFRA, BALTASAR, BLIMUNDA E OS OUTROS

  


O Convento de Mafra foi mandado edificar por D. João V, como paga de uma promessa - o nascimento de um herdeiro. Segundo se sabe, a sua construção iniciou-se a 17 de novembro de 1717. 
 Sobre a sua construção, podemos socorrer-nos de Baltasar, Blimunda, Padre Bartolomeu de Gusmão e, principalmente, de José Saramago, como lemos no excerto de Memorial do convento:

Terra solta, pedrisco, calhau que a pólvora ou o alvião arrancaram ao pedernal profundo, esse pouco o transportam por mão de homem os carrinhos, enchendo o vale com pó que se vai arrasando do monte ou extraindo dos novos caboucos. Para o entulho de maior porte e arrastado peso andam os carros grandes, chapeados de ferro, que os bois e as bestas puxam sem mais pausa que carregar e descarregar. Aos andaimes, pelas travejadas rampas de madeira, sobem homens as pedras suspensas do jugo que sobre os ombros e a nuca lhes assenta, para sempre seja louvado quem inventou o chinguiço, alguém a quem lhe doía. São trabalhos já ditos, que mais facilmente se recapitulam por serem de força bruta, porém, é causa da sua reiteração não consentir que esqueçamos o que, por tão comum é de tão mínima arte, se costuma olhar sem mais consideração que distraidamente vermos os nossos próprios dedos escrevendo, assim de um modo e outro ficando oculto aquele que faz sob aquilo que é feito. Muito melhor veríamos, e muito mais, se olhássemos de alto, por exemplo, pairando na máquina voadora sobre este lugar de Mafra, o passeado monte, o conhecido vale, a Ilha da Madeira que as estações escureceram de chuva e sol, e alguns tabuados apodrecem já, não há melhor miradouro que este onde estamos, não faríamos ideia da grandeza da obra se o padre Bartolomeu Lourenço não tivesse inventado a passarola, a nós nos sustentam no ar as vontades que Blimunda juntou dentro das esferas de metal, lá em baixo outras vontades andam, presas ao globo terra pela lei da gravidade e da necessidade, se pudéssemos contar os carros que se movem por estes caminhos de ir e voltar, próximos ou mais longe, chegaríamos aos dois mil e quinhentos, vistos daqui parece que estão parados, é por ser tão pesada a carga. Mas os homens, se os quisermos ver, tem de ser de mais perto.

  Muito mais há a descobrir - Scarlatti, os carrilhões, a biblioteca, os morcegos, Ludwig, os mitos das caves, o Terramoto, todo um mundo a descobrir numa visita merecida.



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