Júlio Dinis, n' A Morgadinha dos Canaviais, publicado em folhetim, nos jornais (1868), apresenta-nos uma sociedade nos extremos do Minho, com todos os problemas da época - a lei que proíbe os enterros nas igrejas, a civilização que rasga novas estradas e as eleições. Cria, também, fantásticas figuras como o tio Vicente, Bento Petrunhas e o Sr. Joãozinho das Perdizes.
Nessa pacata aldeia, os ânimos acendem-se no dia das eleições em que concorrem o Conselheiro Manuel Bernardo Mesquita e o brasileiro de torna-viagem, Eusébio Seabra.
Os manejos dos amigos do conselheiro e
principalmente do infatigável Tapadas conseguiram ainda resultados importantes
em relação ao tempo em que principiaram a operar com mais energia. Algumas
freguesias havia com que já se podia contar.
A
eleição porém estava muito arriscada ainda. O Sr. Joãozinho das Perdizes devia
decidir a contenda. Para onde se inclinasse o morgado com todo peso dos seus
comparoquianos, desceria o prato da balança.
Contra
ele pois assestou o conselheiro toda a artilharia; mas sem o menor resultado. O
homem evitava subtilmente encontrar-se com ele, e aos seus emissários respondia
com insolência. O Seabra pela sua parte nunca os largava, vigiava-o como um
precioso tesouro, não se descuidava de o manter nas disposições hostis contra o
conselheiro, com quem Henrique estava ligado. Depois disse-lhe que o
conselheiro se gabava de ter dinheiro para comprar o morgado e toda a
freguesia.
O
morgado, sob estas e análogas instigações, praguejava e jurava despejar na urna
ministerial o sufrágio da sua freguesia.
Assim
pois todas as probabilidades eram a favor do candidato do governo, homem
desconhecido deste povo, o qual também era desconhecido para ele, um empregado
de secretaria, que nunca saíra de Lisboa e que era o primeiro a rir-se do
campanário obscuro de que se propunha a ser representante; criatura dos
ministros, que o desejavam eleger a todo o custo, por terem nele um voto
complacente e um parlamentar de boa feição.
(cont.)
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