02/10/2015

AS ELEIÇÕES EM JÚLIO DINIS

  Júlio Dinis, n' A Morgadinha dos Canaviais, publicado em folhetim, nos jornais (1868), apresenta-nos uma sociedade nos extremos do Minho, com todos os problemas da época - a lei que proíbe os enterros nas igrejas, a civilização que rasga novas estradas e as eleições. Cria, também, fantásticas figuras como o tio Vicente, Bento Petrunhas  e o Sr. Joãozinho das Perdizes.

   
   Nessa pacata aldeia, os ânimos acendem-se no dia das eleições em que concorrem o Conselheiro Manuel Bernardo Mesquita e o brasileiro de torna-viagem, Eusébio Seabra.
  
Imagem do filme A Morgadinha dos Canaviais (1949). À esquerda, o Brasileiro 

  Os manejos dos amigos do conselheiro e principalmente do infatigável Tapadas conseguiram ainda resultados importantes em relação ao tempo em que principiaram a operar com mais energia. Algumas freguesias havia com que já se podia contar.
  A eleição porém estava muito arriscada ainda. O Sr. Joãozinho das Perdizes devia decidir a contenda. Para onde se inclinasse o morgado com todo peso dos seus comparoquianos, desceria o prato da balança.
  Contra ele pois assestou o conselheiro toda a artilharia; mas sem o menor resultado. O homem evitava subtilmente encontrar-se com ele, e aos seus emissários respondia com insolência. O Seabra pela sua parte nunca os largava, vigiava-o como um precioso tesouro, não se descuidava de o manter nas disposições hostis contra o conselheiro, com quem Henrique estava ligado. Depois disse-lhe que o conselheiro se gabava de ter dinheiro para comprar o morgado e toda a freguesia.
   O morgado, sob estas e análogas instigações, praguejava e jurava despejar na urna ministerial o sufrágio da sua freguesia.
  Assim pois todas as probabilidades eram a favor do candidato do governo, homem desconhecido deste povo, o qual também era desconhecido para ele, um empregado de secretaria, que nunca saíra de Lisboa e que era o primeiro a rir-se do campanário obscuro de que se propunha a ser representante; criatura dos ministros, que o desejavam eleger a todo o custo, por terem nele um voto complacente e um parlamentar de boa feição.

(cont.)

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