Logo pela manhã do domingo, marcado para a
grande solenidade de civil, o adro da igreja paroquial apresentava uma animação
fora do costume. Grupos formados aqui e ali conferenciavam, entreolhando-se com
desconfiança, ou correspondendo-se por sinais de inteligência, conforme
pertenciam à mesma ou a oposta parcialidade. Os agentes eleitorais, os influentes
dos dois campos acercavam-se deste, apertavam a mão àquele, segredavam com um,
batiam no ombro a outro, discutiam com um terceiro, e, sempre que era possível,
distribuíam listas ao maior número.
O
brasileiro era a alma do partido governamental. O Tapadas capitaneava a falange
do conselheiro. Pertunhas falava com todos, esfregando as mãos sorrindo. O
regedor passeava com importância por entre os grupos, recomendava ordem e
respeito às autoridades, e dava de olho aos cabos seus subordinados, para que se
não esquecessem de cumprir as instruções recebidas, votando no candidato
ministerial,
Aproximava-se
a hora, e principiavam os trabalhos para a constituição da mesa. O pároco, o
administrador e o regedor fora, ocupar o seu lugar. Ficou presidente o brasileiro,
e o resto da mesa formou-se entre as duas parcialidades.
(...)
-
Vencemos por uma maioria de mais de duzentos votos; verão!
-
Só a freguesia de Pinchões enche-nos a urna.
-
Estará bem seguro o morgado?
-
O Sr. Joãozinho!? Ora! Está de ferro e fogo contra o conselheiro.
-
Pois se te aparece! Depois daqueles mimos que lhe fizeram na taberna, e do que
dele se tem dito no Mosteiro!...
-
Não é só por isso. Ele já estava do nosso lado, desde que soube que tinham
deitado a baixo a casa do herbanário, e que o pobre velho já não se levanta da
campa?
(...)
-
E então para quê, senhores, para quê?- Continuava o Pertunhas.
-Para fazer uma estrada em que se gastam rios
de dinheiro, e que afinal não presta! Pois eu passei por a casa do herbanário
há pouco, quero dizer por a casa do Augusto, que é onde vive agora o Vicente. O
rapaz estava à porta. Então, Sr. Augusto, disse-lhe eu, vamos à urna, vamos à
urna! Ele encolheu os ombros como quem diz: «bem me importa a mim com isso».
(cont.)
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