03/10/2015

ELEIÇÕES





 Logo pela manhã do domingo, marcado para a grande solenidade de civil, o adro da igreja paroquial apresentava uma animação fora do costume. Grupos formados aqui e ali conferenciavam, entreolhando-se com desconfiança, ou correspondendo-se por sinais de inteligência, conforme pertenciam à mesma ou a oposta parcialidade. Os agentes eleitorais, os influentes dos dois campos acercavam-se deste, apertavam a mão àquele, segredavam com um, batiam no ombro a outro, discutiam com um terceiro, e, sempre que era possível, distribuíam listas ao maior número.
 O brasileiro era a alma do partido governamental. O Tapadas capitaneava a falange do conselheiro. Pertunhas falava com todos, esfregando as mãos sorrindo. O regedor passeava com importância por entre os grupos, recomendava ordem e respeito às autoridades, e dava de olho aos cabos seus subordinados, para que se não esquecessem de cumprir as instruções recebidas, votando no candidato ministerial,
   Aproximava-se a hora, e principiavam os trabalhos para a constituição da mesa. O pároco, o administrador e o regedor fora, ocupar o seu lugar. Ficou presidente o brasileiro, e o resto da mesa formou-se entre as duas parcialidades.
    (...)
   
- Vencemos por uma maioria de mais de duzentos votos; verão!
    - Só a freguesia de Pinchões enche-nos a urna.
    - Estará bem seguro o morgado?
   - O Sr. Joãozinho!? Ora! Está de ferro e fogo contra o conselheiro.
  - Pois se te aparece! Depois daqueles mimos que lhe fizeram na taberna, e do que dele se tem dito no Mosteiro!...
   - Não é só por isso. Ele já estava do nosso lado, desde que soube que tinham deitado a baixo a casa do herbanário, e que o pobre velho já não se levanta da campa?
   (...)

  
  - E então para quê, senhores, para quê?- Continuava o Pertunhas.

 -Para fazer uma estrada em que se gastam rios de dinheiro, e que afinal não presta! Pois eu passei por a casa do herbanário há pouco, quero dizer por a casa do Augusto, que é onde vive agora o Vicente. O rapaz estava à porta. Então, Sr. Augusto, disse-lhe eu, vamos à urna, vamos à urna! Ele encolheu os ombros como quem diz: «bem me importa a mim com isso».
(cont.)

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