Dois poemas de Manuel António Pina
Gatos
Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem
Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa
Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
e compassivo o deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos
Às vezes o gato fitava
com estranheza
o que de nós (um excesso)
se intrepunha entre nós e o gato, a nossa presença.
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