28/06/2015

CARTAS

  Já não se escrevem cartas. As que recebemos trazem-nos contas para pagar. O que vamos poder guardar de uma Amizade, de um Amor?


   Não se guardam sentimentos em envelopes. À caixa de correio já quase só chegam contas para pagar. Não se escrevem cartas de amor, não se mandam relatos de viagens, nem sequer informações profissionais. Hoje, as emoções, as ideias, as declarações e os pensamentos vão parar à caixa de e-mail. Em todo o mundo, mais de 196 mil milhões são trocados todos os dias. Quase sempre curtos. Muito curtos. Mesmo lacónicos.
 Este artigo da revista do Expresso continua com o depoimento de uma especialista em Sociologia da Comunicação, Filipa Subtil:  Há um empobrecimento da comunicação, com uma diminuição acentuada de vocabulário, e conteúdos cada vez mais curtos, superficiais e fragmentados. (...) Vamos pagar um preço caro.
  As cartas de escritores, políticos, diplomatas, desvendam-nos um mundo riquíssimo. A BE pode emprestar a correspondência de Jorge de Sena com José Régio e Vitorino Nemésio, a de António Nobre e a de Fradique Mendes.
  Álvaro de Campos achava as cartas de amor ridículas, mas...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente

Ridículas.) 


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