10/01/2016

AGENDA

  No início/final do ano, um dos rituais é/era o preenchimento da nova agenda, assim como a atualização da lista de endereços e telefones, como nos diz Pedro Mexia.



    HÁ NOMES QUE FICAM

    Há nomes que ficam, sem préstimo, nas agendas,
    transitam de ano para ano por inerência
    ou desleixo, por vezes o nome próprio.
    É uma referência obscura, e nunca houve apelido.
    Os números, em poucos anos,
    passam de mnemónicas e criptogramas,
    indicam sem dúvida que nos cruzámos
    com gente que se cruza connosco,
    que trocámos telefones como se
    trocássemos alguma coisa,
    mas tudo muda, os conhecidos
    tornam-se amigos e depois desconhecidos.
    Estes nomes, posso riscá-los
    como se fosse velho e eles mortos,
    mas os números, como uma praga,
    acumulam-se, escritos
    com tintas diferentes
    e por vezes nas letras erradas.
    Não posso desfazer-me das agendas
    nem começar uma todos os anos,
    mas já não sou o mesmo:
    os números observam as minhas idades
    e talvez pudesse agora marcar este
    que não me diz nada
    e contar tudo
    a alguém que não de lembra de mim.

2 comentários:

  1. “A vida é importante enquanto se é forte,
    depois o necessário é suportar,
    a cada início do ano sentir a alegria
    de comprar a agenda certa.” Gonçalo M. Tavares, em "Os velhos"

    Escrevem tão bem.

    Mili

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    Respostas
    1. Sempre atenta e informada. Gostamos dos mesmos. Obrigada.

      Eliminar

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