04/07/2014

SANTA ENGRÁCIA

 
As obras de Santa Engrácia

O magnífico interior

 As palavras, e os posts, são como as cerejas. Ao falar do Panteão, ontem, recordamos a expressão como as obras de Santa Engrácia. 
   Em 1681, um temporal arrasou a Igreja de Santa Engrácia, em São Vicente, Lisboa. A sua reconstrução durou mais de 300 anos, até 1966, apesar de ser considerada Património Nacional, desde 1910, e lá estarem sepultados os nossos Maiores, desde 1916.
   As obras concluíram-se e a expressão entrou no esquecimento, mas não deixou de ser actual - ainda há por aí algumas obras de Santa Engrácia.

03/07/2014

LIVROS


   É esta casa de leitura que tentamos ver crescer todos os dias, com "inquilinos" ainda mais novos.



02/07/2014

SOPHIA



   No dia da sua trasladação para o Panteão Nacional, o testemunho dos filhos:
Às vezes, quando a casa estava adormecida, à noite, ela dançava pela sala fora, tal como escreveu («bailarina fui mas nunca bailei») (…)
    Naquela casa, aprendemos cedo duas coisas sobre a poesia. A primeira, era que os poetas eram todos uns personagens extraordinários, que apareciam a horas imprevistas e diziam coisas surpreendentes. (…)
   A segunda coisa sobre poesia que aprendemos é que a poesia é para ser dita e para ser escutada: é oral, não cabe nos livros. Eu não sabia nada de aritmética, nem de botânica ou mineralogia mas, aos dez anos, já tinha aprendido, de ouvido, a recitar sonetos de Shakespeare em inglês do século XVI, ou o “Erl König”, do Goethe, em alemão. E quando ela trouxe para casa um disco com poemas do Lorca recitados em espanhol pela Germaine Montero, ouvi-o tantas, tantas vezes, que fiquei a saber de cor o imenso “Llanto por Ignácio Sanchez Mejia”. À mesa, entre a sopa e o prato principal, dentro de um automóvel a caminho do sul ou na missa das sete da tarde na Igreja da Graça, de repente ela começava a recitar poesia com a mesma naturalidade com que os outros falavam de coisas triviais ou respondiam em latim ao “orate, frates!” do padre. Às vezes, naquele terror que as crianças têm que os pais pareçam estranhos em público, apetecia enfiarmo-nos pelo chão abaixo quando, à mesa de um café no Chiado, ou numa loja, em plenas compras de Natal, ou caminhando connosco pela rua de mãos dadas (por vezes, distraída, perdia-nos), ela começava a recitar poesia em voz alta, como se o mundo inteiro à sua volta lhe fosse de repente absolutamente alheio. Um dia, no eléctrico a caminho de casa, ela fixou-se num letreiro, por cima de uma janela, que rezava assim: “se alguma janela o incomoda, peça ao condutor que a feche.” E então, no meio daquele silêncio envergonhado dos passageiros, que fingem não ver e não se ouvir uns aos outros, ecoou a voz dela, clara e silabada, recitando um poema: “se alguma janela o incomoda, peça ao condutor que a feche e que nunca mais a abra.”
   A mim, todavia, ensinou-me o mais importante de tudo: ensinou-me a olhar. Ensinou-me a olhar para as coisas e para as pessoas, ensinou-me a olhar para o tempo, para a noite, para as manhãs. Ensinou-me a abrir os olhos no mar, debaixo de água, para perceber a consistência das rochas, das algas, da areia, de cada gota de água. Ensinou-me a olhar longamente, eternamente, cada pedra da Piazza Navone, em Roma, sentados num café, escutando o silêncio da passagem do tempo. Fez-me mergulhador e viajante, ensinou-me que só o olhar não mente e que todo o real é verdadeiro. Quem ler com atenção, verá que esta é a moral que atravessa toda a sua escrita.
   A outra lição decisiva foi a da liberdade. Não só a liberdade física, não só a liberdade na luta pela justiça, “num sítio tão imperfeito como o mundo”, mas ainda a liberdade na busca de um caminho próprio onde as coisas tenham uma ética e façam sentido e, acima de tudo, a liberdade da nossa própria solidão. Prémios, condecorações, homenagens, são-lhe de tal forma alheios que ninguém mais o entende. Dêem-lhe, sim, silêncio e tempo, manhãs como a “manhã da praça de Lagos” e noites com “jardins invadidos de luar”. E ela dançará. Ao longo das sílabas dos poemas, como dançava na minha infância.
   Miguel Sousa Tavares, Não te deixarei morrer, David Crockett

Há uma glória neste lugar solar
por sobre a sombra, o desabrigo, 
ladeando ventos, passos, vozes,
pássaros de água.

Há sob o sol antigo (sol alheio, de sobranceria)
um acolhimento, como se ele apenas contigo
houvesse agora entendimento e no princípio
da praia, solitário, te esperasse.

Para trás ficou a cidade - a cidade-estuário,
a cidade azul criada pelo rio, a cidade olhada,
percorrida, no bater do coração de tanto Verão -

amarga e amada e na tarde da terra o trabalho
avança, contigo para o sem-nome da distância,
solitária e azul.
Maria Andresen



01/07/2014

PIC-NIC

    Para além da praia, o pic-nic, como então se dizia, era um dos pontos altos da época. Basta ver-nos os bonitos cestos que as grandes marcas fabricavam, e fabricam.


  Na pintura, a refeição ao ar livre é amplamente retratada, desde o famosíssimo e arejadíssimo Déjeuner sur l´herbe, de Édouard Manet

Manet (1832-1883)
recreado, mais tarde, entre outros, por Monet,


Claude Monet (1840-1926)
por Cézanne,

Paul Cézanne (1839-1906)
magistralmente tratado por Cesário Verde, no poema De tarde,


Naquele "pic-nic" de burguesas, 
Houve uma cousa simplesmente bela, 
E que, sem ter história nem grandezas, 
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico, 
Foste colher, sem imposturas tolas, 
A um granzoal azul de grão-de-bico 
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos, 
Nós acampámos, inda o Sol se via; 
E houve talhadas de melão, damascos, 
E pão-de-ló molhado em malvasia.


Mas, todo púrpuro a sair da renda 
Dos teus dois seios como duas rolas, 
Era o supremo encanto da merenda 
O ramalhete rubro das papoulas!


ou satiricamente descrito por Luís Sttau Monteiro nas crónicas que escreveu no Diário de Lisboa, em 1969 e 70, depois reunidas em livro, As redacções da Guidinha

exemplar igual ao da Biblioteca
  Mas, chic, chic, será fazer um pic-nic durante o Glyndebourne Festival, Sussex. Para este ano, já não será possível...

30/06/2014

JACARANDÁ


Porto - Largo Alberto Pimentel

   Quem gosta de jacarandás vai deliciar-se com esta crónica de Alexandra Lucas Coelho, Público, 29-06-2014, com a delicadeza do Japão, a poesia de Eugénio de Andrade. Toda uma beleza para nos fazer esquecer o que de feio nos rodeia.

29/06/2014

A PRAIA


 A ida para a praia era uma aventura esperada ansiosamente no começo de cada verão. Se não se morava perto do mar, alugava-se casa, faziam-se toilettes novas, almofadas para levar para a barraca, mantas e, se a casa não tinha todas as coisas necessárias, preparavam-se louças, roupas de casa e algum aparelho imprescindível. O televisor ficava em casa... mas o rádio ia.
 O dia era passado na praia, com muitos banhos, brincadeiras e um bolinho, algumas vezes, depois de termos comido o pão com o recheio do dia.


          Brincávamos muito. Antes da era do plástico, os baldes eram de folha pintados,



  os fatos de banho das meninas cheios de rendas e laços, normalmente feitos em casa.



   Já mais velhos, passávamos  horas com este simples prego, num jogo com regras e pontuação. Muita agiliadade e... manha.


   Para os mais pequenos, o plástico foi uma verdadeira revolução.


   (Voltamos a aconselhar uma visita ao Museu do Brinquedo, Ponte de Lima).

    Não resistimos a publicar este vídeo com uma das canções de praia mais pirosas (como se dizia na época)...


28/06/2014

E ASSIM COMEÇOU...

 
Francisco Fernando (1863-1914)
                           
Sofia de Hohenberg (1868-1914)
   No dia 28 de Junho de 1914, o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e sua mulher, Sofia, visitavam Sarajevo quando foram atingidos mortalmente pelos tiros disparados por Gavrilo Princip, um independentista.

   O assassínio do herdeiro dos Habsburgo aconteceu no aniversário da derrota dos sérvios pelos turcos na Batalha de Kosovo, em 1389, (...). Entre os que assistiam ao desfile do arquiduque e da sua mulher ao longo da cidade para a residência do governador, estava um bósnio sérvio de dezanove anos de idade, Gavrilo Princip, que tinha uma pistola. Era um dos seis jovens companheiros presentes nas ruas nesse dia e que sonhavam com o momento em que a Bósnia se libertaria do jugo austríaco e faria parte integrante da Sérvia.
A primeira guerra mundial, Martin Gilbert

   Pouco tempo depois, começava a guerra.





26/06/2014

NEM SÓ DE FUTEBOL

Gana vs Portugal


 Júlio Evangelista nasceu em  Valença, em 1927, e morreu na Meadela, em 2005. Advogado, deputado pela União Nacional e escritor, em 1963, publicou o livro Ghana's complaint and the plot against Portugal, em inglês, mais tarde publicado com o título em português, A queixa do Gana e a conjura contra Portugal, também acessível em e-book.
    Será que, logo mais tarde, o Gana vai voltar a queixar-se? Haverá uma conjura contra Portugal, ainda hoje?             

  (Assim termina esta rubrica com o regresso da equipa portuguesa.)


25/06/2014

MAQUIAVÉLICO


Nicolau Maquiavel (1469-1527)
   No seu livro O Príncipe, Maquiavel analisa o poder e as formas de o exercer, dando origem ao termo maquiavélico. Segundo o Dicionário de insultos: estranhas origens e bizarras histórias dos insultos portugueses, já aqui referido, aplicamos este vocábulo a uma pessoa fria e calculista, isenta de emoções, alheia a sentimentos e que age apenas em função de interesses. Levado ao extremo, podemos dizer que é um safardana ou um sacana, palavra de origem japonesa que, estranhamente, quer dizer peixe (cf. obra citada).

24/06/2014

S. JOÃO


  Um alho porro (nada de martelos). Balões. Um manjerico.  Uma cascata. Porto sentido. Saudades.