30/04/2014

CONTORNOS DA PALAVRA


   Ontem de manhã, continuámos com Pedro Seromenho, com as suas histórias e as suas ilustrações




    De tarde, viajámos com Os aventureiros, pela mão de Isabel Ricardo.





FRASEANDO


   O 25 de Abril não libertou os corpos, senão formalmente, como não alargou o horizonte dos espíritos, senão teoricamente.

   ... o país não se desenvolveu realmente, durante estes anos de riqueza que nos foi oferecida de bandeja (claro, com contrapartidas destrutivas, se nada fosse feito. (...) Perdemos - estamos a perder - uma oportunidade única.

   Se o (actual) povo português fosse um povo de intensidades e não de sentimentos e de medo (...), há muito que teríamos saído do estado de iliteracia e de fragilidade económica em que vivemos. Em vez disso, sofremos de muitos defeitos próprios das sociedades do terceiro mundo: absentismo no trabalho, inércia, dificuldade na formação e na aprendizagem, lentidão, falta de competitividade. Como se tivéssemos sido atingidos por uma doença que nos deixa diminuídos, meios exangues, com um défice de força vital.

                   Portugal, hoje: o medo de existir, José Gil (2004)

29/04/2014

CONTORNOS DA PALAVRA

   Este primeiro dia dos Contornos da Palavra foi bem intenso. Para os mais velhos, Richard Zimler e a sua Ilha Teresa.


 

    Manuela Ribeiro trouxe-nos Miguel, Ricardo e outras personagens para os 5º e mais novos.


 
 
     Depois de almoço, o teatro com Eva Fernandes e Jorge Alonso, Mal me quer, bem me quer.
 

 


FRASEANDO


... o 25 de Abril não conseguiu abolir a divisão instruído/sem instrução que correspondia mais ou menos ao par poder-saber/ pobreza-ignorância do tempo do salazarismo. Porque na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência e os homens supostos de terem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão de liberdade.

   É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico - que só nasce quando o interesse da comunidade prevalece sobre o dos grupos e das pessoas privadas (...) Portugal conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade.

Portugal, hoje: o medo de existir, José Gil (2004)

28/04/2014

FRASEANDO


 Sem transição, o povo português passou da boa consciência de um sistema semitotalitário ou mesmo totalitário, para a boa consciência revolucionária, sem mesmo se interrogar sobre tão complexa e súbita conversão das Forças Armadas fiéis ao antigo regime em força democrática e vanguardista. Sobretudo, sem se interrogar acerca das consequências de toda a espécie que a Revolução arrastaria consigo ou de que já era consequência. A Revolução de Abril foi recebida e festejada como uma simples mudança de cenários gastos que não alteraria o pacatíssimo e delicioso viver à beira-mar plantado, nem alteraria em nada a imagem que os portugueses se faziam de si mesmos. Ou antes sim, para "melhor". De cidadãos de um estado opressivo, sem gozo de direitos cívicos normais ao contexto europeu, tornavamo-nos, por milagra, cidadãos «à part entière» da Europa e do mundo democrático.

O Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço, (1978) 

CONTORNOS DA PALAVRA







     Começa hoje a semana de palavras, ideias, leituras, livros, debates e partilhas.
    Aqui, daremos notícias.

27/04/2014

IN MEMORIAM


VASCO GRAÇA MOURA

1942-2014

A FOTOGRAFIA



   Uma das fotografias mais divulgadas do 25 de Abril mostra--nos um menino descalço, esfarrapado, a pôr uma flor no cano de uma arma. Esse menino tinha 3 anos, era filho de Pedro Bandeira Freire, muito conhecido na época por, entre outras coisas, ser dono dos cinemas Quarteto. Fotografado por Sérgio Guimarães, Diogo Bandeira Freire, na realidade, por uma questão de facilidade, está a puxar o cravo e não a metê-lo na arma…
    
   Aos 18 anos foi estudar para Inglaterra, onde é director financeiro de uma empresa Em 2006, nas comemorações do 10 de Junho, foi condecorado pelo Presidente da República.



26/04/2014

O DIA SEGUINTE

   Nos dias seguintes, os jornais locais, na 1ª página, publicaram manifestos, apelos e tomadas de posição. As outras páginas continuaram com as mesmas secções e as notícias dadas da mesma forma.
   Aurora do Lima, no dia 26, publica na 1ª página o comunicado do Movimento Democrático do Distrito de Viana do Castelo, assim como um artigo do director intitulado Confiança e colaboração.


   O Notícias de Viana só volta a ser publicado a 29 de Abril.







25/04/2014

25 DE ABRIL



Salgueiro Maia (1944-1992)


                                Aquele que na hora da vitória
                   Respeitou o vencido

                   Aquele que deu tudo e não pediu a paga

                   Aquele que na hora da ganância
                   Perdeu o apetite

                   Aquele que amou os outros e por isso
                   Não colaborou com sua ignorância ou vício

                   Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
                   Como antes dele mas também por ele
                   Pessoa disse

Sophia de Mello Breyner Andresen



                 Ficaste na pureza inicial
                 do gesto que liberta e se desprende.
                 Havia em ti o símbolo e o sinal
                 havia em ti o herói que não se rende.
                Outros jogaram o jogo viciado
                para ti nem poder nem sua regra.
                Conquistador do sonho inconquistado
                havia em ti o herói que não se integra.
               Por isso ficarás como quem vem
               dar outro rosto ao rosto da cidade.
               Diz-se o teu nome e sais de Santarém
               trazendo a espada e a flor da liberdade.
Manuel Alegre


(Esta página foi construída, com toda a admiração e carinho, há meses. Um erro técnico impediu que fosse publicada logo às 0.00. Lamentamos imenso.)

23/04/2014

UM LIVRO, UMA ROSA



Hoje, vamos recordar Shakespeare. Vamos recordar Cervantes e S. Jorge. Vamos ser e não ser. Vamos lutar contra os moinhos de vento e os dragões. Vamos dar uma rosa. Vamos dar um livro.

Hoje, vamos LER+













A MUDANÇA


   Para os mais distraídos, para os que pensam que dantes era melhor, para os mais novos, alguns dados que nos devem fazer pensar e querer melhorar. A azul, alguns números bem elucidativos.




1974
2014
HABITANTES
8 754 400
10 514 800
NASCIMENTOS
171 979
89 841
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL
37,9%
3,4%
ÓBITOS
96 928
107 612
Nº MÉDIO DE FILHOS POR MULHER
2,69
1,28
Nº DE PENSÕES
      780 399
     3 584 902
Nº DE CONSULTAS POR MIL HABITANTES
2 736
4 170
POPULAÇÃO ACTIVA POR PENSÕES PAGAS
5
1,5
ALOJAMENTO COM ÁGUA CANALIZADA
47%
99%
SESSÕES DE CINEMA
121 000
635 000
ESPECTADORES DE CINEMA
36 milhões
14 milhões
TIRAGEM DE PERIÓDICOS POR HABITANTE
34,5
49,3


EDUCAÇÃO

1974
2014
Nº DE CRIANÇAS NO PRÉ-ESCOLAR
41 000
273 000
TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO NO 1º CICLO
85%
100%
TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO NO SECUNDÁRIO
5%
72%
TAXA DE ANALFABETISMO
26%
5%
                                                   HOMENS
20%
3,5%
                                                   MULHERES
31%
7%
PESSOAS COM ENSINO SUPERIOR
0,9 %
14,8%

Pordata
Visão, nº 1102, 17 a 23 de Abril de 2014

22/04/2014

CIVISMO

   Para contrariar os comentários: Dantes, havia respeito. As leis eram cumpridas, uma exortação do Notícias de Viana, de Abril de 1974:
 
 

 

21/04/2014

AS FLORES E AS REVOLUÇÕES

Que terão em comum estas duas flores:








 

 
 
 
 
 
 
 
Na manhã do dia 9, o exército liberal pôs-se a caminho do Porto. Durante o percurso, os soldados encontraram, a bordejar os caminhos por onde desfilavam, uma flor muito vulgar no Norte e que ostentava, curiosamente, as cores azul e branca que D. Pedro, por decreto de 18 de outubro de 1830, dado em Angra do Heroísmo, havia adotado  para a bandeira. A essas flores, importadas do Extremo Oriente nos finais do século XVIII, uns davam o nome de hortênsias; outros, o de hidrângeas.
         Colhendo-as, os soldados enfiaram-nas nos canos das espingardas e assim, de forma triunfal, entraram no Porto. A hidrângea tornou-se, por isso, o símbolo do constitucionalismo. Das janelas da Rua de Cedofeita, por onde o exército libertador desfilou, depois de ter percorrido a antiga estrada para Barcelos, a actual Rua 9 de Julho, os soldados eram saudados pelas senhoras com lenços e fitas azuis e brancas.

Porto: viagem ao passado, Germano Silva

  

20/04/2014

PÁSCOA


 Há muitos anos, o Sábado de Aleluia era um dia de festa. Saíamos de um tempo cinzento, com as pessoas vestidas de escuro, principalmente na Sexta-feira Santa, de uma Quaresma cheia de jejuns e proibições, de uma rádio que só transmitia música sacra, desde as 3 horas de quinta-feira e de uma televisão que transmitia filmes bíblicos e notícias. O sábado, por tudo isto, e como as contas estavam mal feitas, segundo dizem, era já de Ressurreição. 
 Cortavam-se as flores para ornamentar as casas e caminhos, abriam-se as janelas das salas mais fechadas até aí, faziam-se os bolos, as últimas compras e os preparativos para o almoço de Páscoa, comiam-se as primeiras amêndoas.

Desse sábado, ficou-me na memória as pombinhas de pão que eram anualmente encomendadas ao padeiro que fazia a entrega domiciliária. Uma pomba de regueifa (diferente desta imagem) com uns olhinhos em chumbo que me atraiam. As recomendações Cuidado com os olhos. Não os metas à boca. Com manteiga, muita, e com uma cevada acabada de passar no coador de pano, o sabor ficou-me até hoje.
   Não gosto de amêndoas de licor, mas acho-as lindíssimas. tenho pena de não as poder guardar como ... colecção.


    BOA PÁSCOA!

19/04/2014

BOAS NOVAS

  Em 1974, as BOAS NOVAS realizaram-se nos dias 20, 21 e 22 de Abril. Mazarefes é descrita como ridente, no Notícias de Viana, apresentando o programa. Podemos dele destacar a visita do Governador Civil e do Presidente da Câmara aos pavilhões da Telescola, ali sendo apreciada uma exposição de trabalhos dos alunos. O arraial era animado pelas bandas de Vilela - Paredes e Arrifana. Umas festas com muito menos poluição sonora...


18/04/2014

PUBLICIDADE

   No campo da saúde, apenas encontramos publicidade no Notícias de Viana e em número reduzido, como aqui se publica. A especialidade médica não era referida pelo seu nome técnico, mas apresentada de modo a ser bem entendida por todos - doenças de senhora, doenças dos olhos, doenças dos ossos e articulações.






17/04/2014

PUBLICIDADE

   Terminamos a análise da publicidade com alguns anúncios que nos mostram os gostos, a modernidade e a linguagem da época.
  Para além do estilo do mobiliário, dos lindos sofás-camas, ainda se publicitam colchões em folhelho, lado a lado com os modernos Molaflex. No primeiro texto, escreveram Cosinha, o que já se tinha verificado num dos anúncios a um restaurante. O final dos dois anúncios é quase igual. tendo o segundo um ? que será uma gralha. 



   Os mais velhos recordar-se-ão do mundo que era a Somartis, o grande armazém do distrito, dos autocarros que chegavam com compradores.



   Para além de toda a parafernália, chamamos a atenção para o serviço de fotocópias a 5$00 ( 2 cêntimos) cada, o que era caríssimo



     É muito interessante a linguagem apresentada em alguns anúncios, como este, em que a dona de casa é tratada por  V. Exª, e se divulga a nova moda do frango assado e a vantagem de poupança de tempo e de dinheiro.