D. João V (1689-1750), o Magnânimo, foi o representante máximo de um barroco excessivo, do ouro sobre azul, dos gastos de toda a riqueza que o ouro do Brasil permitia. Esta pintura de Jean Ranc retrata o gosto da época - a cabeleira, os drapeados, as sedas e brocados, as jóias, o aparato - bem no estilo da corte francesa que ditava a moda.
Fervoroso praticante da religião, não dispensava um auto de fé e tinha na procissão do Corpus Christi uma especial devoção, querendo torná-la não uma festividade popular, mas mais uma manifestação de sumptuosidade. José Saramago, O memorial do convento, descreve assim o descontentamento da população:
«Pergunta então o povo que procissão vem a ser essa,se não podem sair os foliões da Arruda atroando as ruas com o seu pandeiro,se estão as mulheres de Frielas proibidas de dançar (…) se não saem castelos, (…),se não navegará aos ombros de homens a nau de S. Pedro, que procissão
teremos, que gosto nos vão tirar.»
O rei ordenou que a tradição não fosse mantida, pelo que, a 12 de Maio de 1717, Diogo Mendonça de Corte Real transmitiu as ordens régias ao
Senado da Câmara de Lisboa (…)
Que
não vão na procissão tourinhas, gigantes, serpe adrago
e esparteira, carros e as coisas semelhantes que costumam dar os ofícios, nem
dança alguma, nem os mouros que costumam ir junto a S. Jorge.
Para
maior
magnificência da procissão, o rei D. João encomendou ao arquitecto João Frederico Ludovice, o autor do projeto de Mafra, em 1719 a ornamentação das ruas por onde ela desfilava (…).
Avisado das avultadas despesas, o rei simplesmente mandou responder que
aqueles gastos seriam feitos pelas rendas da câmara e que, se fosse necessária
uma nova taxa para tal, deveria ser a «menos gravosa». (…)
Em
1733 os preparativos para a procissão do Corpo de Deus fizeram-se «com a costumada magnificência»,
mas nesse ano com uma novidade: as armações tinham sido feitas em Paris e
Bruxelas.
Para aprofundar este tema poderão requisitar na BE o livro de Maria Beatriz Nizza da Silva, D. João V, de onde foram transcritos os textos em itálico.