É Tempo de
Natal
É tempo de
Natal. Exibe-se um pinheiro,
Com
lâmpadas de cor, sobre o balcão.
Tem,
também, pendurados, a isca do dinheiro
E flocos
finos de algodão.
Nas férias,
foge a freguesia
Do final
das manhãs,
Com os seus
kispos disformes, de inflada fantasia,
E o
conforto das lãs.
Bebem-se
mais bebidas quentes.
O chão,
mais húmido, incomoda.
E há apelos
insistentes
Do cauteleiro
que anda à roda.
Os
embrulhos, nas mesas, nos regaços,
Com
vistosos papéis,
Florescem
de acetinados laços,
Lembram o
oiro, o incenso, a mirra, em mãos de reis.
Muitos
adultos. Pouca criançada.
Muito
cansaço. Pouca animação.
A vida (a
cruz!) tão cara, tão pesada!
E dão-se as
boas-festas sem se sentir que o são.
Consigo
mesa junto à vidraça.
E é em mim
que procuro, ou é lá fora,
A estrela
que não luz, o pastor que não passa,
O anjo que
não vem anunciar a hora?
António
Manuel Couto Viana, in Café de Subúrbio