31/01/2015

CINÉFILO E REVOLUCIONÁRIO





  Aurélio Paz dos Reis nasceu no Porto em 1862, onde morreu, em 1931. Pioneiro do cinema em Portugal, Paz dos Reis realizou o primeiro filme português, A saída do pessoal da Fábrica Confiança, réplica do filme de Lumière, como já aqui apresentámos.
  Homem de fortes convicções republicanas, Paz do Reis foi um dos participantes na Revolta do Porto, em 31 de janeiro de 1891. Um grupo de civis, entre eles João Chagas e Sampaio Bruno, e de militares revoltaram-se contra a cedência portuguesa ao Ultimatum inglês. Quando a revolta já parecia ter terminado, um grupo subia a Rua de Stº António, depois Rua 31 de janeiro, voltando ao nome primitivo, com o estado Novo, e a Rua 31 de janeiro, após o 25 de abril de 1974, até hoje, a Guarda Civil, em Stº Ildefonso, abriu fogo matando 12 e ferindo 40.

 A Revolta, durante a 1ª República foi comemorada anualmente, sendo proibidas essas mesmas comemorações durante o Estado Novo.
  Aurélio Paz dos Reis, como republicano, maçon e cinéfilo, foi um Homem muito para além do seu tempo.

30/01/2015

GANDHI

   Não precisamos apagar a luz do próximo para que a nossa brilhe.

2 de outubro de 1869 - 30 de janeiro de 1948

  Nascido na Índia, Mohandas Gandhi licenciou-se em Direito, estagiou em Londres e, em 1893, foi trabalhar para uma firma de advogados na África do Sul onde defendeu os imigrantes indianos, lutando pelos seus direitos. Nesse país, esteve preso várias vezes, por causa da sua luta pelos direitos cívicos, adotando, já nessa altura, uma posição pacifista e de procura da verdade.
  Em 1915, regressa à Índia, onde continua a sua luta, apelando à desobediência e à não-violência. Em 1921, assume a chefia do Congresso Nacional Indiano, chamando a atenção para a pobreza, os direitos das mulheres, o problema religioso, os impostos que os ingleses impunham a esta sua colónia. Acreditando vivamente na possibilidade de mudança, não olhava a meios para ser ouvido, chegando a fazer várias greves de fome como protesto.
 O Plano Mountbatten, em 1947, começou a desenhar a criação de dois estados independentes - Índia e Paquistão, o que veio a ocorrer a 15 de agosto. Gandhi, de novo, procurou, pacificamente, combater esta divisão, embora concordando com a independência, tentando acalmar a população que se manifestava nas principais cidades.
 No dia 30 de janeiro de 1948, um Hindu fanático assassinou-o, em Deli. 
 Sugerimos que vejam o filme Gandhi, de 1982, protoganizado por Ben Kingsley, vencedor do Óscar para melhor filme.
   Um Homem de LUZ.

29/01/2015

GEO-LUZ


Viana do Castelo, 27 de janeiro, às 7:28

Viana do Castelo, 27 de janeiro, às 7:28
 Imagens captadas pelo Professor Henrique del Rio, integradas no projeto GEO-LUZ.

28/01/2015

DO POEMA ... FEZ-SE LUZ

  O tema do nosso projeto surgiu deste poema de Mário Cesariny, publicado em Pena capital

   Faz-se luz pelo processo 
   de eliminação de sombras 
  Ora as sombras existem 
  as sombras têm exaustiva vida própria 
  não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela 
  intensamente amantes    loucamente amadas 
  e espalham pelo chão braços de luz cinzenta 
  que se introduzem pelo bico nos olhos do homem 

  Por outro lado a sombra dita a luz 
  não ilumina    realmente    os objectos 
  os objectos vivem às escuras 
  numa perpétua aurora surrealista 
  com a qual não podemos contactar 
  senão como amantes 
  de olhos fechados 
  e lâmpadas nos dedos  e na boca 

27/01/2015

TREVAS


 Auschwitz foi o primeiro campo de concentração a ser libertado, a 27 de janeiro de 1945. Nele, foram assassinados 1,1 milhão de judeus, 70 a 75 mil polacos, 15 mil prisioneiros soviéticos, 21 mil ciganos e cerca de 10 mil outros prisioneiros. 
 Esther Mucznik recorda esta data num artigo do jornal Público, do ano passado. Todo o artigo pode ser aqui lido.
  

  Anne Frank foi uma das vítimas deste período de trevas, tendo morrido pouco antes da libertação, no campo de Bergen- Belsen.

  Hoje, comemora-se o DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO. 
    Aprendemos alguma coisa?
    Para sabermos mais, a BE pode emprestar:


                              


26/01/2015

PALMATÓRIA

 Não é necessário que nos tragam uma palmatória tão sofisticada e em prata.


Ficamos satisfeitos com modelos mais simples como estes para a exposição À luz da vela

 
Não se esqueçam de que precisamos da vossa colaboração.

25/01/2015

BORDALO


  Numa semana em que se continuou a falar de caricaturas, comemorou-se, no dia 23 de janeiro, o centenário da morte de Rafael Bordalo Pinheiro. Desenhador, aguarelista, decorador, caricaturista, jornalista, ceramista e professor, Bordalo foi o criador, em 1875, do Zé Povinho,na Lanterna Mágica aproveitado em diversas ocasiões e em diversas formas. Em 1879 lançou O António Maria e, em 1885, Os pontos nos ii.


 Uma das suas mais conhecidas caricaturas que muito incomodou os políticos da época...



 Numa visita ao Museu Bordalo Pinheiro poderão apreciar todas as atividades a que se dedicou.

24/01/2015

CHURCHILL

 Há 50 anos morria um dos maiores estadistas de sempre - Winston Churchill. Acompanhou a Guerra dos Boers, como correspondente de guerra, tendo sido feito prisioneiro. Desempenhou vários cargos políticos, na I Guerra e foi Primeiro Ministro duas vezes - 1940-45 e 1951-55.
  Para além de político, ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1953 pelas suas Memórias da II Guerra Mundial. Como pintor, o seu trabalho não é muito referido, pelo que, segundo pensamos, seria apenas um passatempo.
  Nesta imagem, vêmo-lo na Madeira, a pintar a paisagem de Câmara de Lobos, tendo-se instalado, claro,


no Reid's Palace Hotel, aqui numa fotografia com a mulher Clementine.

Aristocrata, nasceu no Palácio de Blenheim, vivendo anos na sua casa de campo em Chartwell.



  A filha mais nova, Mary Soames, nas suas memórias - A daughter's tale - dá-nos um retrato delicioso da vida familiar dos Churchills, sendo ela uma testemunha privilegiada de muitos dos encontros políticos do pai.

23/01/2015

LUZ E DESENVOLVIMENTO

 Ontem, no Jornal de Notícias, este artigo sobre a relação da LUZ com o desenvolvimento das diferentes partes do mundo, segundo Carlos Fiolhais. Um bom tema para lhe colocarmos na sua vinda a Viana do Castelo, na sessão inaugural dos Contornos da Palavra.


22/01/2015

VITÓRIA



  Adorava as obras de Sir Walter Scott e a Escócia, ou ao contrário, assim como se impressionava com os relatos de Charles Dickens.
  Mais do que uma rainha, todo o seu longo reinado foi de inovação e descobertas na Ciência, na Arte, na Medicina, na Política, na Moda, no Turismo, nos Costumes - a época vitoriana.
 Apesar de detestar a gravidez, de dar de mamar e de achar todos os recém-nascidos feios, com o seu muito amado Príncipe Alberto, teve nove filhos que casou com todas as casas reinantes importantes da Europa, criando uma teia familiar de influências que de nada serviram, por exemplo, para se evitar a I Guerra, como aqui já foi referido. Casamenteira real, não achou que o nosso D. Pedro V fosse um bom partido para uma das suas filhas, entre outras razões, por ser católico, mas não resistiu, como se pode ler na correspondência que trocaram, a escolher-lhe a futura mulher - a Princesa Estefânia.
  Em 1853, aquando do nascimento do sétimo filho - Leopoldo - à Rainha Vitória foi ministrado clorofórmio que voltou a utilizar mais tarde. Recomendou-o à Rainha D. Maria II, também ela casada com um Saxe Coburgo-Gotha.
 Depois de viúva, passava grandes temporadas em Balmoral com o seu fiel John Brown.
  Morreu faz hoje 114 anos.
  Uma riquíssima biografia a ler.

21/01/2015

ORWELL

 Temos sempre a preocupação das novidades, de adquirir as últimas publicações e pomos de lado títulos excelentes de que já ninguém fala. Já aqui temos referido obras que deviam ser obrigatórias para todas as gerações.
 No aniversário da morte de George Orwell21 de janeiro de 1950, voltamos a um desses livros


 História de ditadores, ditadorzinhos, democracias disfarçadas, igualdades desiguais, ainda bem atuais nos nossos dias e junto de nós. Para muitos, com a sua leitura, fez-se luz...

   Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.

   Merece ser lido,pensado e repensado. A BE empresta.

20/01/2015

A LUZ QUE DÁ VIDA

 Há publicidade que nos salva. Há LUZ que nos salva a vida. 
 Vê com atenção o vídeo. Não te esqueças que quando andas de bicicleta é muito importante que sejas visto. Uma simples LUZ salva-te.

             

    (Queremos agradecer à Liberty Seguros a autorização para utilizarmos este vídeo.)

19/01/2015

À LUZ DA VELA


  No dia 2 de fevereiro, Dia da Senhora das Candeias, queremos inaugurar uma exposição com castiçais, candeias, palmatórias e outros suportes para velas e objetos que dêem LUZ. Precisamos da vossa colaboração - emprestem-nos objetos para essa exposição.
   O Snoopy já nos começou a ajudar....


18/01/2015

+ TORGA


               Mãe:
               Que visita tão pura que me fizeste
               Neste dia!
               Era a tua memória que sorria
               Sobre o meu berço.
               Nu e pequeno como me deixaste,
               Ia chorar de medo e de abandono.
               Então vieste, e outra vez cantaste,
               Até que veio o sono.


                                                                                                    Miguel Torga, Diário IV

17/01/2015

MIGUEL TORGA

   

Ladino, um dos contos de Os bichos publicados em 1940, a par com Miura, Tenório, Madalena,  Ramiro, Farrusco, Nero, Morgado, Bambo, etc, faz-nos recordar a esperteza, o despacho, a manhosice de alguns dos nossos. Saber levar a vida é, para alguns, uma sabedoria um orgulho...


 Miguel Torga morreu há 20 anos. Leiam-no. Está na BE. Fica aqui as primeiras linhas de Ladino:

Grande bicho, aquele Ladino, o pardal! Tão manhoso, em toda a freguesia, só o padre Gonçalo. Do seu tempo, já todos tinham andado. O piolho, o frio e o costeio não poupavam ninguém. Salvo-seja ele, Ladino.

Mas como havia de lhe dar o lampo, se aquilo era uma cautela, um rigor!... E logo de pequenino. Matulão, homem feito, e quem é que o fazia largar o ninho?! Uma semana inteira em luta com a família. Erguia o gargalo, olhava, olhava, e - é o atiras dali abaixo!... A mãe, coitada, bem o entusiasmava. A ver se o convencia, punha-se a fazer folestrias à volta. E falava na coragem dos irmãos, uns heróis! Bom proveito! Ele é que não queria saber de cantigas. Ninguém lhe podia garantir que as asas o aguentassem. É que, francamente, não se tratava de brincadeira nenhuma!

16/01/2015

15/01/2015

SCHWEITZER, BACH, AFRICA



 Teólogo, organista, filósofo, missionário, médico, Albert Schweitzer nasceu a 14 de janeiro de 1875. Pelo seu trabalho em África, no Hospital com o seu nome, em Lambaréné, Gabão, recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1952. Foi, também, um estudioso e intérprete da obra de Johann Sebastian Bach.
 Em 1995, 30 anos depois da sua morte, Hughes de Courson e Pierre Akendenque juntaram a música de Bach com a música tradicional do Gabão e produziram o album Bach to Africa, uma homenagem a Albert Schweitzer.

                         

 Nos tempos em que vivemos, é bom encontrarmos pessoas que criam e fazem LUZ por onde passam.

14/01/2015

NOVIDADES

Mais umas novidades, desta vez para os mais pequenos. Oferta das editoras Opera Omnia e Porto Editora. O nosso agradecimento.
a

13/01/2015

CHARLIE

Charles Schultz criou, em 1950, Peanuts, com as personagens Charlie Brown e Snoopy, a que junta Lucy, Sally, Linus, Woodstock, Schroeder e outros.


  Esse Charlie, aqui de costas com o Snoopy, olha para um futuro difícil. Esse Charlie vai dar o nome ao Charlie Hebdo tão tristemente falado estes dias. Por tudo isto, Je suis Charlie.


12/01/2015

TEMPOS MENOS DIFÍCEIS


NIMRUD, IRAQUE, 2 de abril de 1950
(...)
A nossa Casa de Expedição é feita de tijolos de lama. (...) Portanto esta é a  minha «casa« e a ideia é que, nela, eu possa ter privacidade total e dedicar-me seriamente ao trabalho de escrever.

  Assim começa o Prólogo da Autobiografia de Agatha Christie. A escritora, nascida a 15 de setembro de 1890 e que morreu a 12 de janeiro de 1976, viveu no Iraque, com o segundo marido, o arqueólogo Max Mallowan. Viajou por lugares exóticos o que lhe permitiu escrever, entre outros romances policiais, O crime no Expresso do Oriente, A morte no Nilo, criar personagens excecionais, como o bon vivant, requintado e viajado, Hercule Poirot, ou a pacata Miss Marple.
 Nas últimas páginas, também refere: Ainda não falei da nossa casa em Bagdade.


  Esses tempos acabaram. Com tanto fanatismo, com tanta falta de liberdade e tanta intolerância, Agatha Christie já não viveria descansada no Iraque e noutros locais que tanto a encantaram e inspiraram. Que o diga Salman Rushdie e os jornalistas franceses.
  Leiam os seus livros. A BE empresta.




11/01/2015

FRASEANDO




   Alguns livros são para serem saboreados, outros, para serem engolidos depressa e alguns poucos para serem mastigados e digeridas.
                                                       Francis Bacon

10/01/2015

CIDADE LUZ E TREVAS

Em memória das vítimas do atentado ao jornal Charlie Hebdo 
De um momento para outro, a intolerância, a luta em nome de um Deus que deveria ser misericordioso, em nome de um fanatismo, tornam a Cidade LUZ numa cidade de trevas.
 Não nos podemos calar. Não nos podemos acomodar. Não podemos ignorar.
  Paris voltará a ser Paris. A LUZ triunfará. Mas à custa de quantos?



09/01/2015

Novidades

 Mais livros para serem lidos em 2015. Para todos os gostos, de todos os géneros, para todas as idades. É só escolher e requisitar na BE.

08/01/2015

THE KING


 Nasceu  no Missisipi, a 8 de janeiro de 1935. Em 1954, começou a carreira como músico - pop, blues e gospels. De entre os seus inúmeros sucessos, não nos podemos esquecer que foi o cantor que mais discos vendeu, referiremos apenas Love me tender, Blue suede shoes, e a sua última atuação - Are you lonesome tonight.


 Meses depois, e com muita droga legal e ilegal a ajudar, Elvis Presley morre a 16 de Agosto de 1977.

07/01/2015

LUAS DE JÚPITER


  Galileo Galilei (1564-1642) descobriu as chamadas Luas de Galileu, os satélites naturais de Júpiter - Europa, Io, Calisto e Ganimedes. As três primeiras foram observadas pela primeira vez no dia 7 de janeiro de 1610, com o telescópio que construiu.


06/01/2015

OS REIS

  Gaspar, Melchior e Baltasar saíram dos seus palácios, escolheram as suas prendas e puseram-se a caminho. Um estrela, uma Luz, guiou-os durante o percurso. A estrela que, todos os anos, se coloca no presépio. A Luz que nos indica o caminho e nos guia.
 Sophia de Mello Breyner Andresen, em Os três reis do oriente, conta-nos essa viagem de cada rei e a estrela que os guiou.

  Primeiro pareceu a Gaspar que a estrela era uma palavra, uma palavra de repente dita na muda atenção do céu.
  Mas depois o seu olhar habituou-se ao novo brilho e ele viu que era uma estrela, uma nova estrela, semelhante às outras, mas um pouco mais próxima e mais clara e que, muito devagar, deslizava para o Ocidente.
  E foi para seguir essa estrela que Gaspar abandonou o seu palácio.
  (...)
 Nessa noite, depois da Lua ter desaparecido atrás das montanhas, Melchior subiu ao terraço e viu que havia no céu, no Oriente, uma nova estrela. (...)
 E sobre o mundo do sono, sobre a sombra intrincada dos sonhos onde os homens se perdiam tacteando, como num labirinto espesso, húmido e movediço, a estrela acendia, jovem, trémula e deslumbrada, a sua alegria.
  E Melchior deixou o seu palácio nessa noite.
  (...)
  A estrela ergueu-se muito devagar sobre o Céu, a Oriente. O seu movimento era imperceptível. Parecia estar muito perto da terra. Deslizava em silêncio, sem que nem uma folha se agitasse. Vinha desde sempre. Mostrava a alegria, a alegria una, sem falha, o vestido sem costura da alegria, a substância imortal da alegria.
  E Baltasar reconheceu-a logo, porque ela  não podia ser de outra maneira.

04/01/2015

ELIOT



 T. S. Eliot nasceu nos Estados Unidos em setembro de 1888, mas naturalizou-se inglês em 1927. Ensaísta, crítico literário, dramaturgo e editor, Eliot foi um dos mais reputados escritores do seu tempo. Publicou, entre outros, A terra devastada, A quarta-feira de cinzas e Quatro quartetos.
 Ruben A. em Páginas, recorda o encontro com o escritor: Um dia, no comboio para Nottingham, sentou-se à minha frente T. S. Eliot, e assim nos conhecemos.
 Morreu no dia 4 de janeiro de 1965.


03/01/2015

LEITURAS

Os mais velhos lembram-se bem desta Procissão, de António Lopes Ribeiro, aqui, na voz de João Villaret.


 Como sabemos, leitura puxa leitura, e, no último livro de Maria Teresa Horta, Meninas, encontramos uma outra procissão, no conto A ilha, com as mesmas personagens, mas muito mais rica. A mancha gráfica do texto foi mantida:

 ...fiquei diante do padre que vinha à frente do andor pesado, 
   olhar baixo e contrito, arrastando a renda branca da saia pelo cisco, a poeira escura e as pedras miúdas à mistura com pequenas folhas e pétalas maceradas, pisadas com descuido; logo atrás vinham os meninos com capinhas escarlates, que tocavam pequenos sinos de prata ou baloiçavam os turíbulos de onde saíam grossos rolos de fumo com um intenso cheiro a incenso, que me entonteceu ainda mais.
  Os andores floridos, levados aos ombros pelos homens, pareceram-me oscilar perigosamente. Olhei à roda, se bem que temesse encontrar a enorme figura
     do Senhor dos Passos todo de roxo, cruz às costas e joelho na terra, imagem terrífica (...) e que desde o primeiro domingo em que a avó me levara à missa e eu a vira tanto me atemorizara, me envenenara as noites em sobressalto. (...)
   Fascinada,
   corri abertamente, corri maravilhada e sem peso, (...), até me encontrar no meio dos pequenos anjos com as suas asas níveas de penas leves e macias, matizadas de rosas e ametista, prestes - soube - a levantarem voo.

02/01/2015

O CONCERTO

  Há hábitos que vamos alimentando ao longo dos anos. Logo no primeiro dia do ano,  o concerto pela Orquestra Filarmónica de Viena é um daqueles acontecimentos que é seguido com atenção e deslumbramento.
  Ontem, na sua 75ª edição, a RTP voltou a transmitir o Concerto de Ano Novo da fabulosa Musikverein de Viena.


  O maestro Zubin Mehta dirigiu a orquestra que interpretou cerca de vinte peças, a grande maioria dos Strauss. Este ano, Viena comemora os 650 anos da Universidade. os 200 anos da Universidade Técnica e os 150 anos da abertura da circular que delimita o centro histórico, Ring, sendo estas datas , também, comemoradas com música. 
 O programa foi variado, terminando, como de costume, com a famosíssima valsa Danúbio azul, de Johann Strauss Filho, que é muito aplaudida logo nos primeiros acordes, seguida da vivíssima Marcha Radetzky, de Johann Staruss Pai.
 Podem ouvir esta Marcha, no Concerto do ano passado, dirigido por Daniel Barenboim.


  É bom sabermos que há coisas boas que se mantêm, e com a mesma qualidade. 
   
   Até ao ano, em Viena.

01/01/2015